O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, venceu as eleições legislativas deste domingo, 3, com resultados preliminares mostrando uma grande margem de vantagem de seu partido, apesar de a oposição ter se unido em torno de um candidato único pela primeira vez em 12 anos.
A oposição, formada por seis diferentes linhas ideológicas, reconheceu a derrota para o Fidesz, partido do premiê da extrema-direita nacionalista, depois de Orbán declarar uma “vitória excepcional” que lhe garantiu seu quarto mandato consecutivo, seu quinto na história do país.
Com 91% dos votos apurados, o Fidesz havia conquistado 135 das 199 cadeiras no Parlamento, enquanto a oposição tinha 56 assentos. Com esses resultados, Orbán repete o desempenho de 2010, 2014 e 2018 e tem dois terços do Parlamento, uma maioria que permite que aprove mudanças na Constituição sem depender da oposição.
“Conseguimos uma enorme vitória”, disse o controverso premiê, diante de milhares de correligionários. “Uma vitória que, talvez, possa ser vista desde a Lua, mas certamente, que pode ser vista desde Bruxelas”, em referência clara à União Europeia, que abriu expediente contra a lei húngara que limita os ensinos nas escolas sobre homessexualidade e questões de gênero.
Os resultados confirmam também as diferenças dentro da Hungria, com o Fidesz dominando em localidades rurais, e a oposição tendo vantagem nas grandes cidades. Uma das surpresas das eleições foi o desempenho do partido de extrema-direita Nossa Pátria, que supera, até o momento, a barreira dos 5% dos votos e poderia conseguir cinco cadeiras no Parlamento, pelo menos.
Nas últimas duas eleições na Hungria, em 2014 e 2018, a missão de observação enviada pela Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) classificou os pleitos como “livres”, mas também como “injustos”.
As críticas da instituição giravam em torno de uma cobertura jornalística constante e muito favorável ao primeiro-ministro, que controla quase todos os veículos de imprensa do país; e pela pouca diferença entre a propaganda de Estado e a do partido de Orbán.
A organização anticorrupção K-Monitor informou, em recente relatório, que o Fidesz gastou oito vezes mais nas últimas eleições do que todos os partidos de oposição juntos. Péter Márki-Zay, o candidato a primeiro-ministro da oposição, descreveu as eleições da Hungria como uma luta de “Davi contra Golias”, devido ao “maquinário de propaganda, com recursos ilimitados” do governismo.
De acordo com analistas, a guerra na Ucrânia beneficiou Orbán, que se apresentou diante do eleitorado como um garantidor da estabilidade em tempos turbulentos. O tema foi inclusive explorado pelo premiê.
“A guerra mudou tudo, também nossa campanha”, disse o primeiro-ministro durante comício no mês passado, acrescentando que os húngaros devem eleger entre “a guerra ou a paz”. Para Orbán, a oposição ao seu governo é belicista, por sua solidariedade com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
O premiê foi, durante anos, o aliado europeu mais próximo ao presidente da Rússia, Vladimir Putin. Contudo, embora a Hungria tenha se juntado às sanções da União Europeia, se negou a fornecer armas para Kiev, proibindo, inclusive, a passagem de material bélico em seu território.