O papa Francisco aterrissou nesta sexta-feira, 22, na cidade francesa de Marselha para tratar da crise imigratória na Europa. O pontífice foi recebido no aeroporto pela primeira-ministra da França, Elisabeth Borne, e se reunirá duas vezes com o presidente do país, Emmanuel Macron, neste sábado. Ele também participará de um encontro de jovens católicos e bispos da região do Mediterrâneo.
No aeroporto, dando início à visita-relâmpago a Marselha, com 27 horas de duração, o papa foi informado por repórteres sobre a nova onda de chegada de milhares de imigrantes à ilha de Lampedusa, na Itália, na última semana. Ele lamentou, então, a “crueldade” e a “terrível falta de humanidade” enfrentada por aqueles que cruzam o Mediterrâneo.
Não é a primeira vez, no entanto, que o argentino comenta sobre a delicada situação na ilha italiana. Em julho de 2013, durante sua primeira visita ao local, Francisco prestou uma homenagem aos imigrantes que perderam a vida no mar e destacou a existência da “globalização da indiferença”. Lampedusa está entre os principais destinos daqueles que fogem de áreas de conflito do norte da África.
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“Quem é o responsável pelo sangue desses irmãos e irmãs? Ninguém! Todos nós respondemos assim: ‘Não sou eu, não tenho nada a ver com isso. Serão outros; eu, não, certamente”, discursou na ocasião. “Mas Deus pergunta a cada um de nós: ‘Onde está o sangue do teu irmão que clama até Mim?’. Hoje, ninguém no mundo se sente responsável por isso, perdemos o sentido da responsabilidade fraterna, caímos na atitude hipócrita do sacerdote e do levita de que falava Jesus na parábola do Bom Samaritano.”
Ao todo, mais de 130 mil imigrantes chegaram à Itália neste ano, segundo o governo. O impressionante número representa quase o dobro dos registros do mesmo período de 2022. A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, afirma que não deixará que o país se torne “o campo de refugiados da Europa”. Em maio, Francisco marcou presença, ao lado de Meloni, em uma conferência pró-família para incentivar que a população do país abra mão de atitudes “egoístas” e tenha mais filhos para conter o “inverno demográfico”.
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Ao sair do aeroporto na visita desta sexta-feira, o pontífice participou de um culto de oração com bispos, padres e freiras na catedral da cidade de Notre-Dame de la Garde, no qual compeliu os fiéis a manterem o coração aberto aos necessitados. Ele repetirá as homenagens de 2013, estando escalado para orar e discursar em um monumento em homenagem aos heróis e às vítimas do mar.
Em um ato simbólico, os bispos franceses escolheram Marselha como sede do evento Encontros no Mediterrâneo, que se estenderá por uma semana. O local tem longa história de imigração, englobando as culturas da Europa, Oriente Médio e norte de África em um só lugar. O centro da cidade portuária francesa, diferentemente de outras regiões, é habitado por populações imigrantes.
Francisco defende que os refugiados sejam divididos entre as 27 nações da União Europeia (UE), tendo chamado a política de exclusão de alguns países de “escandalosa, repugnante e pecaminosa”. Os comentários desagradaram a políticos conservadores, sobretudo os franceses.
“Ele se comporta como um político, ou como chefe de uma ONG, e não como um papa”, contestou Gilles Pennelle, diretor-geral do partido Rassemblement National, da ultradireitista Marine Le Pen. “Penso que a mensagem cristã é de boas-vindas em nível individual, mas (a migração) é um imenso problema político e se se deve ou não acolher os migrantes cabe aos políticos decidir”, disse ele à Reuters numa entrevista telefónica.