O papa Francisco inicia neste domingo, 3, uma visita histórica aos Emirados Árabes Unidos, a primeira de um pontífice à Península Arábica. Seu objetivo será fortalecer o diálogo entre a Igreja Católica e o Islã.
“Esta visita não poderia ser mais oportuna”, declarou o arcebispo Paul Hinder, bispo do Vicariato Apostólico do Sul da Arábia, que inclui os Emirados Árabes Unidos, Omã e Iêmen.
“Estou feliz de escrever em vossa querida terra uma nova página nas relações entre as religiões, confirmando que somos irmãos, apesar de diferentes”, afirmou o pontífice em uma mensagem em vídeo à população dos Emirados.
Francisco chegará a Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, para uma estada até terça-feira, 5. Ele participará de um encontro inter-religioso e se reunirá com o imã sunita de Al Azhar, xeque Ahmed al Tayeb, a quem já visitara no Egito em 2017. O papa se refere a Tayeb como “amigo e irmão querido”.
Para Francisco, a organização desse encontro inter-religioso reflete “a coragem e a disposição de afirmar que a fé em Deus une e não divide, apesar das diferenças, longe da hostilidade e da aversão”.
Defensor do diálogo com outras denominações cristãs e religiões e das visitas à “periferia”, o pontífice argentino já viajou várias vezes para países muçulmanos. Viajou ao Oriente Médio e à Turquia, em 2014, ao Azerbaijão, em 2016, e ao Egito, há dois anos.
O príncipe herdeiro de Abu Dhabi, Mohamed bin Zayed Al Nahyan, elogiou seu convidado como “um homem de paz e amor”, expressando sua esperança de que “as futuras gerações prosperarão em paz e segurança”.
O sumo pontífice também afirmou que o país que vai visitar é “uma terra que tenta ser um modelo de convivência, de fraternidade humana e de encontro através de diversas civilizações e culturas, onde muitos encontram um lugar seguro para trabalhar e viver livremente no respeito da diversidade”.
Controle religioso
Ao contrário de seu vizinho saudita, que proíbe a prática de outras religiões além do islamismo, os Emirados Árabes Unidos querem projetar uma imagem de país tolerante. Há cerca de um milhão de católicos nesse país, além de praticantes de outras denominações do cristianismo, por causa da presença substancial de trabalhadores indianos e filipinos.
Nessa linha, os Emirados se orgulham de ter um Ministério da Tolerância e declararam 2019 como “Ano da Tolerância”. Ainda assim, as autoridades controlam as práticas religiosas no país e reprimem a contestação política e a exploração da religião até mesmo por cidadãos islâmicos.
“Nós não controlamos as orações na sexta-feira, mas as regulamos para o bem comum, para evitar a disseminação do discurso de ódio, como vimos em muitos países, inclusive na Europa”, explicou uma autoridade dos Emirados.
No último dia de sua visita, terça-feira, 5, o papa Francisco celebrará uma missa no estádio Zayed Sports City, em Abu Dhabi. A expectativa é de participação de mais de 130.000 pessoas, o que tornará a missa o maior ato religioso já vivenciado pelo país, segundo a imprensa local.
Os católicos que compareceram a uma missa ao ar livre na quarta-feira 30, em Dubai, passaram horas na fila da igreja de Santa Maria para conseguir os ingressos para a celebração papal. Havia 41.000 disponíveis em Santa Maria, segundo o padre Lennie Connully. As demais paróquias do país também receberam pacotes de ingressos.
Mais de 2.000 ônibus transportarão os fiéis de todo país até Abu Dhabi, segundo a imprensa local. Para a filipina Mylene Lao Estipona, de 43 anos, que vive no país há 13 anos, a viagem de Dubai a Abu Dhabi e as longas filas para ver o papa são um preço pequeno a pagar para realizar o sonho de sua vida. Ele recuperou-se de um câncer e diz que sua fé lhe deu “uma segunda chance” e a força para superar sua doença.
Francisco, que em 2013 se tornou o primeiro papa latino-americano da história, é frequentemente descrito como “o papa do povo”. “A cultura latina é exuberante, uma cultura extrovertida, muito diferente da cultura europeia”, declarou o padre Connully com um sorriso. “Os latinos são muito diferentes, muito agradáveis, fazem amigos facilmente. Tudo isso é visto no Papa Francisco”, concluiu.