Por 432 votos a 202, o Parlamento britânico rejeitou nesta terça-feira, 15, o acordo para o Brexit negociado pela primeira-ministra, Theresa May, com a União Europeia. Esta foi uma derrota histórica de May, que terá apresentar um “plano B” até a próxima sexta-feira, 18.
Como o plano B poderá ser emendado pelos parlamentares com suas próprias propostas, o cenário para o Brexit é de total incerteza. O Reino Unido poderá chegar em 29 de março, quando a retirada do bloco europeu será efetivada, sem acordo sobre o Brexit ou até mesmo com uma completa volta atrás.
O texto apresentado pela primeira-ministra havia sido aprovado pela União Europeia em novembro de 2018. De acordo com May, o bloco descarta discutir os seus termos e não deve aceitar a discussão de um novo acordo.
Na véspera da votação, a premiê falou ao Parlamento que “os livros de história julgarão se os parlamentares atenderão à vontade do povo, manifestada no referendo de 2016 sobre o Brexit, ao mesmo tempo em que resguardam a economia”.
“(O acordo) não é perfeito. Mas, sim, é uma fórmula de acordo”, admitira May na segunda-feira, enquanto pedia aos legisladores para “voltar a examinar o texto” com espírito aberto.
May tentou convencer os parlamentares sob o argumento de que, com a desaprovação do acordo, o Brexit não será possível a partir de 29 de março, como está programado, e a vontade popular expressa no referendo de 2016 não será adotada.
“O governo está a serviço do povo e May crê fervorosamente que devemos cumprir com o resultado do referendo de 2016”, no qual 52% de dos eleitores votaram a favor do Brexit, disse o porta-voz de Downing Street pouco antes da votação crucial.
Em uma tentativa de salvá-lo ou de, pelo menos, limitar a derrota, May apresentara uma carta enviada por Bruxelas na qual a União Europeia diz que pretende evitar a aplicação do ponto mais conflituoso do acordo, o denominado “backstop”.
Idealizado para evitar a reinstauração de uma fronteira dura na ilha da Irlanda e ameaças ao Acordo de Paz de 1998, o “backstop” mantém temporariamente o livre comércio entre a Irlanda e a Irlanda do Norte. O mecanismo somente entraria em vigor se não for encontrada solução até 29 de março.
A indicação de Bruxelas, contudo, não contornou a rejeição do Parlamento britânico. “Não poderemos respaldar o acordo nesta noite. Queremos que a primeira-ministra volte à União Europeia e diga que o ‘backstop’ deve desaparecer porque não tem nenhum significado real”, afirmou Arlene Foster, líder do pequeno partido norte-irlandês DUP.
Boia de salvação
Ativistas dos dois lados se concentraram desde de manhã em frente ao Parlamento para passar suas mensagens aos deputados, em um ambiente altamente polarizado.
“Votamos a favor do Brexit, queremos abandonar a União Europeia. E queremos que essa gente dentro da Câmara nos veja, nos escute e escute o que dizemos”, disse Sally Smith, do ramo da construção.
“Pessoalmente, espero que o acordo seja rejeitado. Espero que todo o Brexit seja parado, que haja uma consulta popular, mas acho que os últimos dois anos política britânica demonstraram a loucura deste país”, disse outra manifestante, Elena Useinovic, cercada de ativistas com bandeiras europeias.
Para reclamar a celebração de um segundo referendo, várias organizações da sociedade civil instalaram em frente ao Palácio de Westminster um barco em miniatura, batizado de “HMS Brexit”. Sobre ele, uma ativista caracterizada como Theresa May se dirigia a um iceberg. Sua única salvação parecia ser um boia com a placa “Voto Popular”.