Os dois partidos com maior representação no parlamento de Israel enviaram nesta terça-feira, 10, proposta de convocação de inéditas terceiras eleições em menos de um ano no país. A medida foi tomada 24 horas antes do prazo limite para o Knesset, como é conhecido o Congresso do país, dar apoio a um terceiro político potencialmente capaz de formar um governo. Esse nome, porém, não existe. Israel está sem um governo completo desde abril.
Na segunda-feira 9, o premiê Benjamin Netanyahu e o ex-chefe do Estado-Maior Benny Gantz, que hoje lidera o Azul e Branco, maior partido no Knesset, tentaram negociar uma alternativa. Mas, como reportou o jornal israelense The Jerusalem Post, “eles [Netanyahu e Gantz] ficaram apenas tentando atacar um ao outro”.
No sistema político de Israel, após os cidadãos elegerem os 120 membros do Knesset, um governo é formado e, consequentemente, um novo primeiro-ministro é empossado apenas se contar com o apoio de pelo menos 61 dos parlamentares eleitos. Senão, novo pleito é convocado. Há mais de nove meses e depois de duas eleições — 9 de abril e 17 de setembro — Likud e Azul e Branco elegeram as maiores bancadas. O primeiro, com 32 parlamentares, e a legenda de Gantz, com 33. Mas nenhum deles o apoio de maioria do Knesset.
Após o pleito de setembro, Netanyahu e Gantz fracassaram nas suas iniciativas de formação de governo. Como definido pelo presidente de Israel, Reuven Rivlin, cada um dos dois líderes teve o prazo de um mês para suas investidas, encerradas respectivamente nos dias 24 de outubro e 21 de novembro.
Até a meia-noite desta quinta-feira, 12 (19h de quarta-feira, 11, em Brasília) —, qualquer outro membro do Knesset pode tentar formar um governo. Mas, como relata o Post, o “único político ainda se esforçando ativamente e abertamente para impedir [novas] eleições é Aryeh Deri, líder dos Shas”. Trata-se de um partido de direita que conta com apenas nove parlamentares e tenta impulsionar um governo de união entre o Likud e o Azul e Branco.
Diante dessa situação, o Likud e o Azul e Branco co-assinaram e enviaram nesta terça-feira uma proposta ao Knesset para que seja dissolvido e convocadas novas eleições para o dia 2 de março.
Se o Parlamento não aprovar a proposta bipartidária antes da meia-noite de quinta, o próximo pleito em Israel não poderá acontecer antes do dia 10 de março, como define as Leis Básicas de Israel, que equivalem à Constituição. O presidente do Knesset, Yuli Edelstein, agendou a votação para quarta-feira.
Três eleições em um ano
Desde a independência, em 1948, os israelenses encaram a possibilidade de voltar às urnas pela terceira vez em menos de um ano — um feito inédito no país, que até setembro nunca realizara duas eleições nesse mesmo intervalo de tempo.
As próximas eleições “dificilmente” devem destoar em muito da atual composição do Knesset “porque a maioria das pessoas provavelmente não mudaram sua opinião [em relação a setembro e a abril]”, disse Tamar Meisels, cientista política da Universidade de Tel Aviv, em entrevista a VEJA.
Se houver novas eleições, o Azul e Branco e o Likud se manteriam na casa dos trinta e poucos parlamentares — 37 e 33 respectivamente —, segundo pesquisa publicada nesta terça pela emissora israelense Channel 13.
Mas, Meisels lembra que “pequenas mudanças” podem contribuir para encerrar o impasse político: “como um partido pequeno não tem votos suficientes para ingressar no Knesset [o coeficiente eleitoral é 3,25% dos votos], o Azul e Branco [que existe apenas desde fevereiro] pode se romper ou o Netanyahu pode sair da liderança do Likud”.
Escândalos de corrupção
Para o Likud ou o Azul e Branco formar um governo sem o apoio do outro, ambos dependem do partido secular e de extrema-direita “Israel é Nosso Lar”, liderado por Avigdor Lieberman, que se recusa a apoiar apenas uma das legendas e defende um governo de união. O partido de Gantz ainda poderia tentar estabelecer uma coalizão com a esquerda e com a Lista Única Árabe, legenda árabe-israelense. Mas as conversas não evoluíram.
O Azul e Branco recusa um governo de união enquanto o Likud for liderado por Netanyahu e este estiver envolvido em escândalos de corrupção. O líder do Likud foi acusado oficialmente pelo procurador-geral Avichai Mandelblit no final de novembro de cometer suborno, fraude e quebra de confiança em três casos diferentes. Em um deles, o premiê teria subornado um veículo de imprensa por 500 milhões de dólares.
Netanyahu, que está no poder desde 2009 e perderá imunidade parlamentar se não se mantiver no cargo de premiê, disse no início de dezembro que serão realizadas primárias para a liderança do Likud no dia 22, de acordo com a emissora israelense Channel 12.