O Parlamento elegeu nesta quarta-feira o presidente de Mianmar, Win Myint, um aliado da líder e ganhadora do Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi, a qual continuará dirigindo o país, de fato. O político de 66 anos, substitui Htin Kyaw, que renunciou à Presidência na semana passada, após dois anos no cargo, alegando necessidade de descansar.
Ele “obteve a maioria de votos e é eleito presidente do Estado”, declarou nesta quarta-feira o presidente do Parlamento, Mann Win Khaing Thanwill. Depois de renunciar à Presidência da Câmara de Representantes de Mianmar na semana passada, Win Myint obteve dois terços dos votos do Parlamento, dominado pela Liga Nacional para a Democracia (NLD), o partido de Suu Kyi.
O ex-advogado e ex-preso político foi um companheiro de dissidência de Aung San Suu Kyi em 1988 quando participou de uma revolta contra o ditador General Ne Win .
Quando dirigiu a Câmara de Representantes, Win Myint “exerceu um controle estrito sobre os deputados”, disse o analista Khin Zaw Win. Foi contrário à abolição de uma polêmica lei sobre difamação on-line, pela qual dezenas de pessoas enfrentam julgamentos por terem criticado o governo, ou as Forças Armadas.
Acima do presidente
O presidente não é o cargo máximo de Mianmar, mas sim o Conselheiro de Estado, criado especialmente para ser ocupado por Aung San Suu Kyi. “As coisas devem seguir com normalidade, já que o posto de presidente é claramente honorário desde a criação do cargo de conselheira de Estado que ocupa Aung San Suu Kyi”, explicou Mael Raynaud, um especialista em Mianmar.
Suu Kyi não pode assumir a Presidência, porque a Constituição, redigida pelos militares antes de deixarem o poder, impede o acesso à função presidencial de qualquer pessoa que tenha filhos com um estrangeiro. Ela foi casada com Michel Aris, um britânico nascido em Havana, com quem tem dois filhos de nacionalidade britânica. Desde 2015, após a vitória de seu partido nas eleições, Suu Kyi ocupa o posto de Conselheira de Estado.
A eleição do novo presidente acontece em um contexto ainda complicado para Suu Kyi. Mianmar é acusada pela ONU de ter realizado uma limpeza étnica da população rohingya, uma minoria muçulmana que vive no oeste do país. Cerca de 700.000 deles se refugiaram em Bangladesh para fugir da violência.
Embora Aung San Suu Kyi continue contando com a confiança de seu povo, a Prêmio Nobel de 1991 foi criticada pela comunidade internacional por sua falta de compaixão em relação aos rohingyas e por seu silêncio sobre o papel do Exército. O Museu do Holocausto de Washington retirou o prêmio Elie Wiesel que havia concedido a ela em 2012 por sua luta contra a ditadura.
Mitos birmaneses, influenciados por um forte nacionalismo budista, consideram os rohingyas como estrangeiros e acreditam que eles representam uma ameaça ao predomínio budista no país.
(Com AFP)