A pouco mais de uma semana das eleições para o Parlamento Europeu, o partido de extrema-direita da Alemanha Alternative fur Deutschland (AfD) tem focado sua campanha em refutar as evidências sobre mudança climática. Como parte de sua estratégia, seus líderes passaram a acusar e ridicularizar a ativista mirim Greta Thunberg, de 16 anos.
Segundo a página do Facebook da legenda, a estudante sueca lidera um “culto ao clima”. As postagens usam termos como “culto ao CO2”, “pânico de mudança climática” e “lavagem cerebral climática”.
Maximilian Krah, candidato do AfD para as eleições europeias, chegou a chamar Greta de “mentalmente atrasada” e pediu que ela tratasse da sua “psicose”. Outros apoiadores do partido compararam a ativista a membros da juventude nazista.
Greta Thunberg ficou conhecida por protestar em frente ao Parlamento da Suécia, pedindo mais ações do governo contra o aquecimento global. Indicada ao Nobel da Paz, lidera em mais de 100 países um gigantesco movimento juvenil que exige atenção para os temas ambientais.
Tamanha é a influência da adolescente nas questões climáticas que, em dezembro passado, ela discursou na Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), na Polônia, e em janeiro deste ano fez uma apresentação no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça.
A menina sofre de síndrome de Asperger (uma espécie de autismo) e enfrentou depressão aos 11 anos.
O Alternative fur Deutschland acusa a campanha de Greta de encobrir o fato de usar financiamento de um grande think tank especializado em estudos climáticos. Também afirma que o Partido Operário Social-Democrata da Suécia tem se valido da menina para se promover.
A legenda de extrema direita tornou-se mais ativa em tópicos relacionados ao meio ambiente depois das eleições de 2017, quando conquistou 91 dos 709 assentos do Parlamento. Até então, o tema não era abordado com frequência por seus membros.
Os deputados do AfD apresentam-se com ceticismo no Legislativo alemão quando são discutidos programas de proteção ambiental. Um dos principais debates em que o partido está envolvido é o escândalo de fraude envolvendo as emissões de poluentes pela Volkswagen, multada em 1 bilhão de euros por fraudar os testes de emissões. Esta foi uma das maiores penalidades já impostas na Alemanha a uma empresa.
Mas a atenção que o partido dedicou ao tema cresceu ainda mais desde que o ativismo de Greta ganhou as manchetes internacionais em agosto de 2018. Uma investigação conjunta do Greenpeace e do Institute for Strategic Dialogue (ISD), think tank europeu dedicado ao estudo do extremismo político, mostrou um aumento exponencial nas mensagens postadas pela AfD sobre as questões climáticas nas redes sociais.
O aquecimento global mal era mencionado nas páginas oficiais do partido quando ele foi fundado, em 2013, mas entre o final de 2017 e 2018 foram ao menos 300 citações. Desde meados do ano passado, as menções triplicaram e chegaram a mais de 900, com o foco principal no ativismo de Greta.
Nesta terça-feira, 14, o partido organiza um simpósio sobre o tema no Parlamento alemão, em Berlim. O evento foi organizado com apoio do Instituto Europeu de Clima e Energia (EIKE), uma organização de estudiosos que rejeita a ideia de que o aquecimento global é provocado principalmente pela ação humana. O vice-presidente do think tank atua como conselheiro de Karsten Hilse, o porta-voz para a área de meio ambiente da AfD.