O partido governista na África do Sul, o Congresso Nacional Africano (CNA), afirmou nesta quarta-feira que o presidente do país, Jacob Zuma, tem até o dia de hoje como prazo para renunciar.
O anúncio foi realizado pelo tesoureiro geral do partido, Paul Mashatile, em um pronunciamento depois de se reunir com os membros do grupo parlamentar governista. Segundo Mashatile, caso Zuma não deixe o cargo, o Parlamento irá apoiar uma moção de não confiança contra o presidente na quinta-feira.
A moção está prevista pela Constituição sul-africana e, quando ativada pelo Parlamento, deve passar por uma votação. Se for aprovada com maioria simples pelos parlamentares, o presidente e seu gabinete são forçados a renunciar imediatamente.
Jackson Mthembu, outra autoridade do partido, afirmou que o CNA espera eleger o líder da legenda, Cyril Ramaphosa, como presidente da África do Sul na quinta ou sexta-feira, após a votação de não confiança.
Na terça-feira, a ANC já havia comunicado que Zuma estava se negando a deixar o cargo. O presidente teria exigido de três a seis meses mais no poder.
O debate sobre a saída prematura do presidente, com mandato até 2019, foi provocado pelos seus problemas de imagem e pelos graves escândalos de corrupção que o rodeiam. A direção do partido tem o poder de solicitar a saída de seus membros que estejam em função governamental, como aconteceu em 2008 no caso do presidente Thabo Mbeki, que cumpriu a decisão e renunciou.
‘Sou injustiçado’
Em sua primeira declaração pública após o ultimato do próprio partido, Zuma afirmou nesta quarta-feira que tem recebido tratamento “injusto” das lideranças do ANC. “Ninguém nunca deu a razão [para que eu deva renunciar]”, afirmou Zuma em entrevista à emissora estatal. “Ninguém diz o que eu fiz.”
A entrevista ao vivo foi transmitida pouco após o anúncio da liderança parlamentar do ANC sobre a moção de censura. “Eu acho muito estranho que eu esteja ouvindo de meu movimento ‘Você agora precisa ir'”, afirmou Zuma, que insiste ser inocente nos casos de corrupção pelos quais é investigado.
O presidente ainda alertou para o risco de episódios violentos por causa da pressão pela saída dele. “Provavelmente teremos violência política neste país” por isso, alertou.
Operação de busca
Com o país esperando que Zuma defina seu futuro, a polícia realizou nesta quarta-feira uma operação de busca na residência, em Johannesburgo, da polêmica família Gupta, que está no centro dos escândalos que envolvem o presidente.
Segundo a polícia, a operação resultou em três prisões, entre elas a de um membro da família de empresários. Os Gupta, de origem indiana, possuem um império comercial que abrange equipamentos de informática, conglomerados de imprensa e mineração. Grande parte das empresas são comandadas pelos irmãos Ajay, Atul e Rajesh Gupta.
Eles são acusados pelo Ministério Público sul-africano de usar sua amizade com Zuma para influenciar nomeações ministeriais a seu favor, garantir contratos multimilionários com o governo e obter acesso a informações privilegiadas. Os Gupta e Zuma negam qualquer irregularidade.
(Com EFE, Estadão Conteúdo e AFP)