A pediatra Nadezhda Buyanova, de 68 anos, foi condenada a cinco anos e meio de prisão nesta terça-feira, 12, após ser acusada de criticar a guerra na Ucrânia durante uma consulta médica em Moscou. A denúncia veio da mãe de um de seus pacientes, Anastasia Akinshina, segundo a qual a médica fez comentários contra a operação militar da Rússia.
Buyanova, por sua vez, negou as alegações, alegando ser alvo de perseguição política devido à sua origem ucraniana. Nascida em Lviv, na Ucrânia, ela vive na Rússia há muitos anos.
Denúncia de paciente
Segundo Akinshina, Buyanova teria afirmado que a Rússia era “culpada” pela guerra e que o pai do pequeno paciente, um soldado russo morto, era “um alvo legítimo”. A mãe do menino gravou um vídeo denunciando a médica, no qual declarou que não permitiria que o caso fosse “varrido para debaixo do tapete”. O vídeo rapidamente ganhou espaço na mídia estatal do país, ampliando a repercussão pública do incidente.
Não há, porém, gravações da consulta médica que comprovem as alegações, e a acusação se baseia exclusivamente nos depoimentos da mãe e do menino. A defesa de Buyanova refutou as acusações, argumentando que não há evidência concretas do suposto crime e que a pediatra foi condenada injustamente.
Repressão
Buyanova foi acusada de “disseminação de informações falsas” sobre a operação militar russa na Ucrânia, o que se tornou comum desde o início da invasão russa, em fevereiro de 2022. Analistas indicam que a legislação foi criada para reprimir vozes dissidentes e aqueles que se opõem à guerra.
A situação gerou uma onda de apoio à pediatra, considerada uma prisioneira política por organizações de direitos humanos. Em uma carta aberta, um grupo de médicos russos criticou a denúncia, classificando-a como um triste reflexo da repressão política crescente no país.
Recentemente, um homem foi condenado a 13 anos de prisão por “traição”, após fazer uma doação de cerca de R$ 315 a uma organização de caridade que apoia a Ucrânia. Casos semelhantes deram penas pesadas a outros cidadãos russos que fizeram doações pequenas para grupos de apoio aos ucranianos.
De acordo com a organização internacional de defesa dos direitos humanos Memorial, que foi fundada na Rússia, há quase 800 prisioneiros políticos no país. O grupo acredita que o número real, porém, pode ser muito maior, pois muitos casos são julgados sob sigilo.
Estima-se que mais de 116 mil pessoas tenham sido processadas por atividades relacionadas a ativismo nos últimos seis anos, um número que supera os níveis de repressão política vistos até mesmo durante os governos dos líderes soviéticos Nikita Khrushchev e Leonid Brezhnev.