Números de celular de ao menos 20 pessoas ligadas ao dalai-lama foram alvos de espionagem da Índia por meio do software Pegasus, de acordo com o jornal francês Le Monde. Ao contrário de outras autoridades que possivelmente foram alvos, como o presidente francês, Emmanuel Macron, o líder religioso não possui um celular próprio, o que fez com que o governo indiano montasse um cerco a pessoas mais próximas.
Ao todo, vinte representantes tibetanos no exílio, tanto políticos como religiosos, entre eles vários assessores pessoais do dalai-lama, podem ter sido espionados, informou o jornal francês, que integra o consórcio internacional da imprensa que divulgou o alcance da espionagem através do Pegasus.
Os primeiros pedidos das autoridades indianas ocorreram no final de 2017, motivados por um encontro em Nova Délhi entre o dalai-lama e o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama, que chegava da China. Outras solicitações para acrescentar números à lista chegaram depois, em meados de 2018, como a de Lobsang Sangay, presidente da administração tibetana no exílio, e inclusive em maio.
Lhamo Dondrub, nome original do 14º o dalai-lama, está exilado na Índia desde 1959, após a dura repressão chinesa contra revolta popular em Lassa, capital do Tibete. Ele é considerando tanto um chefe de Estado quanto um líder religioso para os budistas. Sob ameaça de prisão, Dondrub se viu forçado a abandonar o país, hoje dominado pela China, e buscar refúgio no norte da Índia.
Desde então, continuou a luta pela independência de seu povo, embora sempre “sistematicamente se opondo à violência”, razão pela qual recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1989.
As solicitações de incluir os números no Pegasus têm forte ligação com as tensões periódicas entre China e Índia, duas potências nucleares que mantêm disputas de fronteira no Himalaia, e com o temor de Nova Délhi de que o o dalai-lama, de 80 anos, firme algum tipo de acordo com Pequim.
No entanto, sem poder analisar os celulares, não é possível comprovar se realmente houve a espionagem do Pegasus, software da empresa israelense NSO Group.
O software inicialmente projetado para rastrear criminosos e terroristas foi usado para roubo de dados e espionagem de repórteres, ativistas de direitos humanos, advogados e diretores de empresas de todo o mundo. Essa é uma das principais conclusões de uma investigação publicada neste domingo 18 e realizada pelo jornal americano The Washington Post e outros 16 veículos de comunicação com a ajuda da Anistia Internacional e da ONG francesa Forbidden Stories.
A AI e a Forbidden Stories tiveram acesso a uma lista de mais de 50.000 números de telefone que teriam sido monitoradas pela empresa israelense NSO por meio do software Pegasus e os compartilharam com a imprensa. Não ficou claro de onde veio essa lista — ou quantos telefones foram realmente hackeados.
Por meio dos números de telefone, porém, os veículos da imprensa conseguiram identificar alguns dos possíveis candidatos para vigilância, entre eles mais de 180 editores, repórteres investigativos e outros jornalistas. Há ainda ativistas e opositores políticos de países conhecidos por espionagem de seus cidadãos ou que são clientes do NSO Group.
O software infecta iPhones e dispositivos Android para permitir que as operadoras extraiam mensagens, fotos e e-mails, gravem chamadas e ativem secretamente microfones e câmeras.