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Peso desvaloriza e bolsa cai 30% com avanço de Kirchner na Argentina

Dólar fecha a 57,30 pesos e BC aumenta taxa de juros a 74,78% ao ano com vitória da chapa Fernández-Cristina nas primárias

Por Da Redação
Atualizado em 12 ago 2019, 19h33 - Publicado em 12 ago 2019, 19h06

O peso argentino derreteu, e os negócios da Bolsa de Valores de Buenos Aires recuaram cerca de 30% nesta segunda-feira, 12, depois da derrota do liberal Mauricio Macri nas eleições primárias deste domingo. O peronista Alberto Fernández, cuja companheira de chapa é a ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner, saiu vitorioso dessa primeira prova e como favorito às eleições presidenciais de 27 de outubro.

No centro financeiro portenho, o dólar americano abriu sua cotação a 53 pesos, mas rapidamente escalou para 66 pesos em bancos privados. No fechamento, a taxa de câmbio ficou em 57,30 por dólar, apesar de o Banco Central ter oferecido um total de 165 milhões de dólares. A cotação registrada representa desvalorização de 14,50% – de longe, a mais acentuada entre todas as economias emergentes.

Diante da procura por dólares – uma das reações tradicionais dos argentinos diante de riscos políticos e econômicos -, algumas casas de câmbio desligaram seus letreiros. Os portais de bancos na internet também saíram do ar. O Banco Central argentino elevou a taxa de juros de 63% ao ano, na sexta-feira, para 74,78% nesta segunda-feira.

A incerteza sobre o rumo da política econômica da Argentina a partir de 10 de dezembro, quando inicia o mandato do presidente eleito, fez a bolsa de Buenos Aires despencar. Na sexta, ela tinha subido 8%, demonstrando otimismo com a possível vitória de Macri nas primárias. Nesta segunda-feira, a queda foi de até 30%, chegando a 46% para ações de algumas empresas. Na bolsa de Nova York, os títulos argentinos tiveram queda de cerca de 20%, e as ações de empresas argentinas, de mais de 50%.

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“É o que acontece quando um governo mente sobre o rumo da economia”, reagiu Alberto Fernández, visto com desconfiança pelos mercados, que prefere a continuidade das políticas liberais de Macri.

Former president Cristina Fernandez de Kirchner leaves a building after a meeting with presidential candidate Alberto Fernandez
Cristina Kirchner, vice na chapa de Alberto Fernández para a Presidência da Argentina: favorecida pela crise econômica – 12/08/2019 (Luiza Gonzalez/Reuters)

Fernández, cabeça de chapa com Cristina Kirchner (2007-2015), obteve 47% dos votos nas primárias, e Macri, 32%. A diferença é considerada quase impossível de ser superada até a eleição de outubro. Com candidaturas definidas de antemão, as primárias servem como uma pesquisa de escala real.

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Os resultados se distanciaram das estimativas das principais pesquisas eleitorais do país. A da consultoria Management & Fit apontava a vitória de Fernández sobre Macri, mas por apenas três pontos porcentuais. A da Celag dera nove pontos de dianteira para o kirchnerista, e a da Synopsis dava a Fernández 42,3% e a Macri, 38,4%.

Se o resultado das primárias se repetir em outubro, Fernández pode ganhar no primeiro turno. Para isso, é preciso obter 45% dos votos ou 40%, se ele estiver mais de 10 pontos à frente do segundo colocado.

Governabilidade

Argentina’s President Mauricio Macri attends a news conference in Buenos Aires
O presidente da Argentina, Mauricio Macri: derrota nas primárias, mercados em queda e chances reduzidas de reeleição – 12/08/2019 (Agustin Marcarian/Reuters)

Em meio ao nervosismo nos mercados, as declarações de um lado e de outro não ajudaram a dar garantias de governabilidade até 10 de dezembro, quando termina o mandato de Macri. A Argentina desta fase democrática mostrou que apenas os presidentes peronistas conseguiram terminar seus mandatos.

Macri convocou uma coletiva de imprensa nesta tarde, após se reunir com seu gabinete, com a promessa de reverter o resultado até as eleições de 24 de outubro. Reconheceu, porém, que o resultado refletiu “uma raiva acumulada” da população com o processo econômico duro vivido no país. Mas o ministro do Interior, Rogelio Frigerio, indicou preocupação com a governabilidade até a posse.

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“Temos a responsabilidade de governar até 10 de dezembro. A oposição também tem a responsabilidade de acompanhar e garantir a governabilidade”, disse o ministro Rogelio Frigerio. “Estamos começando uma campanha novamente. O governo tem que governar, e nós somos a oposição. O governo nunca convocou ninguém, por que convocaria agora?”, rebateu Fernández.

A Argentina vive uma situação de extrema fragilidade econômica desde 2017. O país conseguiu obter ajuda financeira de 56 bilhões de dólares do Fundo Monetário Internacional (FMI), mas sua equipe econômica ainda se desdobra no combate à recessão e à inflação. O FMI estima nova queda  do produto Interno Bruto (PIB) em 2019, desta vez de 1,9%. A taxa de inflação deverá alcançar 43,7% ao ano em dezembro, apesar de o país modular com severidade sua política monetária.

A pobreza atinge 32% da população e o desemprego atinge 2 milhões de trabalhadores – taxa de 10,1% no primeiro trimestre, a mais alta dos últimos 13 anos. Os resultados das primárias indicaram claramente que, para os eleitores argentinos, o impacto em suas vidas dos indicadores econômicos e sociais pesaram mais do que a rejeição a Kirchner, que responde à Justiça como ré em casos de corrupção.

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Para o analista político Carlos Fara, o resultado deixou comprovado “que o governo perdeu o apoio de setores cruciais da sociedade”. “A votação mostrou uma insatisfação profunda com a situação econômica, a angústia na sociedade, que sentiu que o governo tinha se desconectado da realidade e não esteve à altura para enfrentar os problemas”, opinou.

O governo atravessa “sua pior crise política”, avaliou o analista Sergio Berensztein. “O eleitoral passou para o terceiro plano. A reação dos mercados foi contundente. Hoje, todos os argentinos estão mais pobres”, sinalizou.

Fernández foi chefe de gabinete do já falecido ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007) e, em 2008, de Cristina. Rompeu com ela e tornou-se um crítico feroz da então presidente até a reconciliação que, dez anos depois, uniu ambos na chapa presidencial.

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