Pesquisa mostra os homens mais propensos a acreditar que feminismo é ruim
Levantamento alerta para 'divisão turbulenta' geracional
Uma pesquisa Ipsos para o Policy Institute do King’s College London e o Global Institute for Women’s Leadership, publicada na quarta-feira 31, revelou que homens da geração Z, como são chamados os nascidos entre 1995 e 2010, são mais propensos a acreditar que o feminismo trouxe mais males do que bens quando comparados aos baby boomers, aqueles nos seus 60 a 79 anos. O levantamento alerta que o percentual representa um “risco real de divisão turbulenta entre esta próxima geração”.
Um a cada quatro homens do Reino Unido com idades entre 16 e 29 anos acredita que ser homem é mais difícil do que ser mulher, com 16% deles indicando que o feminismo é mais danoso do que benéfico, número que cai para 13% entre maiores de 60 anos. Além disso, um quinto dos jovens que conheciam ex-kickboxer americano-britânico Andrew Tate, acusado de tráfico humano, estupro e formação de uma gangue criminosa voltada para exploração sexual de mulheres na Romênia, o enxergavam com bons olhos. Ele acumula 8,7 milhões de seguidores no X, antigo Twitter.
O levantamento também mostra que 32% desses jovens apoiavam o polêmico autor de best-sellers e psicólogo canadense Jordan Peterson, contra 12% das mulheres da geração Z. O acadêmico é acusado de transfobia por se recusar a usar os pronomes escolhidos por um aluno na Universidade de Toronto, já que seriam palavras “inventadas por ideólogos da extrema esquerda”.
Em 2018, em entrevista ao jornal espanhol El País, Peterson disse que a sociedade associou a “masculinidade a tirania, e isso é muito duro para os jovens” e defendeu que “a desigualdade [entre homens e mulheres] é real, mas a disparidade salarial de gênero não é”. Quatro anos depois, deixou de lecionar na instituição, destinando uma série de críticas ao seu programa de inclusão, diversidade e equidade, acrescentando que “homens brancos heterossexuais” têm uma “chance reduzida de lhes verem ser oferecidas posições de pesquisadores” devido à iniciativa.
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Descoberta ‘incomum’
A Ipsos também apontou que 37% dos homens de 16 a 29 anos consideram “masculinidade tóxica” uma frase inútil, quase o dobro em relação à camada feminina. A descoberta impressionou o diretor do Policy Institute, Bobby Duffy, que a definiu como “um padrão geracional novo e incomum” em entrevista ao The Guardian.
“Normalmente, tende a acontecer que as gerações mais jovens se sintam consistentemente mais confortáveis com as normas sociais emergentes, à medida que cresceram com estas como uma parte natural das suas vidas”, explicou o professor.
Aqueles pertencentes a minorias étnicas são mais propensos a concordar com Andrew Tate, com mais de um terço julgando que ele “levanta pontos importantes sobre ameaças reais à identidade masculina e aos papéis de gênero”. Em publicação no X, Tate escreveu que a melanina “dá sabedoria e discernimento, junto com coragem e força física”. Os pesquisadores, no entanto, advertem que o tamanho reduzido da amostra, com cerca de 3.600 entrevistados, não é capaz de assinalar quais grupos étnicos minoritários seguem o controverso ex-atleta com mais afinco.
“Os jovens de comunidades desfavorecidas ouvem muito falar em torno de políticas para combater a desigualdade e a discriminação racial”, opinou o jovem trabalhador Colin Brent ao The Guardian. “Essas coisas são abstratas. As pessoas não sentem a diferença em suas vidas imediatamente e é difícil ver a diferença sendo feita.
“Então, Black Lives Matter foi importante e tocou em profundas desigualdades estruturais, mas muitos jovens perguntam que diferença isso faz para mim hoje. Andrew Tate fala sobre imediatismo e é isso que as pessoas acham atraente. Ele diz que é assim que você deve ser homem. É assim que você deve ficar rico. Ele oferece uma alternativa ao lento processo de mudança política”, acrescentou.