A falta de uma rejeição em alto e bom som vinda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à vitória proclamada do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, nas eleições de julho é vista com maus olhos pela maioria dos brasileiros. Foi o que descobriu a pesquisa do instituto Vox Populi, encomendada pela ONG Action For Democracy, que defende a democracia mundo afora, realizada entre 10 e 15 de agosto.
Ao todo, 71% dos brasileiros entrevistados desejam que o petista se envolva em ações para garantir a democracia na Venezuela. Lula, por sua vez, disse à TV Centro América, afiliada da Rede Globo, que há nada “grave” no processo eleitoral venezuelano e que “é normal que tenha uma briga”.
O líder brasileiro opinou que o embate seria resolvido com a publicação das atas eleitorais, documento que contém informações sobre cada zona de votação, ainda não apresentadas em totalidade pelo regime chavista. Ele também atenuou ao falar que, quando os relatórios fossem comprovados como verdadeiros, todos tinham a “obrigação de reconhecer o resultado eleitoral da Venezuela”.
Segundo o levantamento, 76% dos que se identificam como parte da esquerda condenam que o petista apoie Maduro; no centro, 79% são contrários; e, na direita, 81% discordam. A crença de que Edmundo González Urrutia, candidato que a oposição diz ter vencido o pleito, é o presidente eleito também é popular entre brasileiros, com 63%.
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Descrença no governo Maduro
Sem a divulgação das atas, o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) venezuelano ratificou o triunfo de Maduro na última sexta-feira, 22, inflamando protestos ao redor do país, convocados pela líder da oposição, María Corina Machado, e González. A pesquisa indica que 73% dos que se dizem à esquerda, 75% dos centristas e 79% dos direitistas desconfiam da narrativa criada pelo governo Maduro para justificar a reeleição. A pesquisa contou com 1.515 entrevistas, realizadas em pontos de fluxo de 112 cidades nas 5 regiões brasileiras. Há margem de erro de 2,5%.
“Há uma percepção muito clara de que a autoproclamação de vitória de Maduro não é acompanhada por evidências críveis. A mesma pesquisa confirma que a grande maioria da população não concorda, não acredita nas alegações do governo venezuelano. E, portanto, acompanha a posição brasileira de que é preciso ver os resultados”, afirmou sócio-fundador do Vox Populi, João Francisco Meira.
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Por que a oposição contesta o resultado?
Em 29 de julho, o Conselho Nacional Federal (CNE), órgão federal controlado pela ditadura, apontou a reeleição de Maduro com 51% dos votos, contra 44% de González, que substituiu María Corina, vencedora das primárias da oposição, após ser inabilitada pelo regime chavista. Em contraste, sondagens de boca de urna e levantamentos independentes sugeriram que o rival de Maduro teria vencido o pleito com 65% de apoio, contra apenas 31% do líder bolivariano.
Uma projeção da oposição com base em 80% dos boletins de urna que conseguiram obter mostrou resultado semelhante. O principal ponto de questionamento da oposição e da comunidade internacional é que o regime não divulgou os resultados na totalidade, por não ter publicado as atas das zonas eleitorais, que reúnem informações de cada centro de votação.