Petrobras está entre 36 empresas que emitem metade do CO2 no mundo
Relatório pode fortalecer a responsabilização das gigantes do petróleo e gás pela crise climática

Apenas 36 empresas de combustíveis fósseis foram responsáveis por metade das emissões globais de dióxido de carbono em 2023, segundo um relatório do Carbon Majors divulgado nesta quarta-feira, 5. O levantamento expõe o impacto desproporcional da poluição gerada por gigantes do setor, como Saudi Aramco, ExxonMobil, Shell e a brasileira Petrobras, e reacende o debate sobre a responsabilização dessas corporações pela crise climática.
O estudo, que analisou as emissões de 169 grandes empresas, revelou que a queima de carvão, petróleo e gás extraídos por essas companhias despejou mais de 20 bilhões de toneladas de CO2 na atmosfera no ano passado. Se a Saudi Aramco fosse um país, ocuparia o quarto lugar no ranking de maiores poluidores do mundo, atrás apenas de China, Estados Unidos e Índia. Já a ExxonMobil produziu sozinha o equivalente a todas as emissões anuais da Alemanha.
A ciência climática não deixa dúvidas: para evitar que o aquecimento global não passe de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, limite estabelecido no Acordo de Paris de 2015, as emissões precisam cair 45% até 2030. No entanto, a tendência segue no sentido oposto. Em 2023, o planeta registrou o ano mais quente já documentado, com termômetros impulsionados pelo uso crescente de combustíveis fósseis.
“Essas empresas estão mantendo o mundo viciado em petróleo, carvão e gás, sem qualquer plano real de desacelerar (a produção)“, criticou Christiana Figueres, ex-secretária da Convenção do Clima das Nações Unidas.
O relatório destaca ainda que a maioria das empresas do setor ampliou sua produção, ignorando os alertas da Agência Internacional de Energia (AIE). O órgão já advertiu que novos projetos de exploração iniciados após 2021 são incompatíveis com a meta de zerar emissões líquidas de carbono (CO2 produzido versus CO2 capturado da atmosfera) até 2050.
A inação do setor tem levado governos a endurecerem sua postura. Nos Estados Unidos, estados como Nova York e Vermont estão processando empresas de combustíveis fósseis para cobrar compensações por danos ambientais. Algumas iniciativas, mais radicais, cogitam até a responsabilização criminal de executivos dessas companhias.
Procuradas, algumas empresas reagiram ao estudo. A Shell afirmou que mantém o compromisso de atingir emissões líquidas zero até 2050 e destacou investimentos em novas tecnologias para reduzir sua pegada de carbono. A Saudi Aramco optou por não se pronunciar, enquanto ExxonMobil, Chevron e BP, não se pronunciaram.