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Plano de genro de Trump de paz Israel-Palestina ignora realidade política

Jared Kushner defende injeção de US$ 50 bilhões, rede 5G e corredor entre Cisjordânia e Gaza, mas se esquece do freio do governo israelense

Por Da Redação
Atualizado em 26 jun 2019, 15h49 - Publicado em 26 jun 2019, 14h11
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  • O plano de paz para a Palestina e Israel proposto pelo genro do presidente americano, Donald Trump,  já é alvo de críticas de especialistas no conflito. Apresentado em uma conferência em Bahrein, em andamento desde terça-feira 25, o projeto de Jared Kushner  prevê a injeção de 50 bilhões de dólares nos territórios palestinos, o desenvolvimento da indústria do turismo e a instalação da tecnologia 5G.

    O jornal Jerusalem Post. criticou a proposta por investir em muitas “generalizações e palavras de esperança”.  “(O plano) pode estar na direção certa, mas a questão é se esse modelo é algo realista, em que os Estados Unidos e seus aliados possam realmente investir, ou apenas um caderno de boa aparência. Sua aplicação é dificultada por ignorar as realidades políticas”, descreve a análise.

    A conferência de apresentação do documento é liderada por Kushner, que também atua como conselheiro Trump na Casa Branca, e está marcada pela ausência de líderes palestinos e israelenses.

    Em linhas gerais, o plano prevê o investimento de cerca de 50 bilhões de dólares, que seriam cedidos por doadores e investidores americanos e de outros países. Mais da metade desse montante seria injetada nos territórios palestinos nos próximos dez anos. O restante seria dividido entre Líbano, Egito e Jordânia, os maiores receptores de refugiados palestinos no Oriente Médio.

    O projeto sugere que o dinheiro seja investido nos setores palestinos de infraestrutura, comércio e turismo. Mas as mudanças propostas ignoram entraves políticos em Israel aos investimentos na Palestina.

    Em uma seção dedicada ao turismo no texto de 38 páginas, a equipe de Kushner defende o “desenvolvimento total”, com “novos investimentos para a criação de acomodações e atrações próximas dos locais turísticos mais populares”. Apesar de reconhecer os “desafios logísticos” para incentivar os negócios de grande porte na região, o documento não menciona como acabar com o controle israelense-egípcio do fluxo de pessoas e mercadorias na Faixa de Gaza.

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    5G

    Em outro tópico do projeto, o governo dos Estados Unidos promete viabilizar serviços de internet de alta velocidade na Palestina, com redes de tecnologia 4G e 5G. Não menciona, porém que Israel vetava até mesmo as redes de 3G nos territórios palestinos até o ano passado.

    De acordo com o analista de Oriente Médio Seth Frantzman, do Jerusalem Post, estas partes do plano “mostram que Israel ou não foi consultado ou não tinha nada a dizer, ou que os autores do texto não são familiarizados com o papel desempenhado pelo país nas fronteiras e nas telecomunicações palestinas”.

    Frantzman criticou as comparações entre a Palestina e cidades como Singapura e Dubai, uma vez que as áreas urbanas de Gaza e Ramallah enfrentam desafios diferentes. “Se Singapura ainda fosse parte da Malásia ou Dubai fosse controlada não pelos Emirados Árabes Unidos mas por algum poder estrangeiro, as coisas seriam como são hoje?”, provoca o analista.

    O plano tampouco cita a ocupação israelense da Cisjordânia, o que impõe um enorme obstáculo a qualquer projeto de desenvolvimento econômico palestino.

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    “Estas cidades-Estado (Dubai e Singapura) tinham um horizonte político e, consequentemente, conseguiram uma histórica econômica de sucesso, e não o contrário. É um problema sem precedentes propor um grande pacote econômico sem consultas prévias.”

    Protestos na Palestina

    Protestos na Palestina
    Manifestantes palestinos carregam caixão dizendo não ao “acordo do século” durante protesto realizado na cidade de Ramallah – 24/06/2019 (Abbas Momani/AFP)

    Entre os 179 projetos de infraestrutura e negócio para os palestinos, o plano de Kushner prevê um corredor de transporte de 5 bilhões de dólares para conectar a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, distantes 115 quilômetros uma da outra. A proposta não é exatamente uma novidade e já foi apresentada no passado, mas emperrou na falta de acordos políticos e de segurança para viabilizá-la.

    Alegando não acreditar em uma saída econômica sem a solução política, a Autoridade Palestina boicotou o evento de dois dias. O governo israelense não foi convidado. Diante da ausência dos palestinos, várias nações árabes concordaram em participar, mas enviaram representantes de médio escalão.

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    “Não sei dizer quantas vezes eu li propostas de ‘planos Marshall’ para o Oriente Médio em um período de vinte anos. Mas a realidade é que, mesmo com aprovação do plano, é muito problemático usar incentivos econômicos — como desenvolvimento, comércio, assistência e até a construção de instituições — sem primeiro alcançar as necessidades e exigências políticas das pessoas no conflito”, afirmou Aaron David Miller, ex-negociador do governo dos Estados Unidos no Oriente Médio.

    Na segunda-feira 24, centenas de palestinos da Cisjordânia ocupada protestaram contra a conferência. Perto de Hebrom, alguns deles se sentaram em torno de um caixão com a inscrição “Não ao acordo do século”, uma expressão pejorativa que faz referência às propostas de paz de Trump.

    Os palestinos cortaram os laços com a Casa Branca em 2017, após Trump ter reconhecido Jerusalém como capital de Israel e transferido a embaixada americana de Tel-Aviv. Para eles, a proposta de paz do governo republicano é pró-Israel.

    A equipe de Oriente Médio do presidente americano deu sinais recentemente de que aceitará a anexação por Israel de novas partes da Cisjordânia, coração do Estado Palestino, aprofundando ainda mais as suspeitas de Ramallah e de sua população.

    (Com Estadão Conteúdo)

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