Com a autorização do Senado, a polícia argentina realizou nesta quinta-feira (23) ações de busca e apreensão em duas das três residências da ex-presidente argentina Cristina Kirchner. A atual senadora é acusada de liderar o “Escândalo dos Cadernos”, uma rede de corrupção que envolveu empresários e autoridades interessados em contratos de obras públicas.
O apartamento de Kirchner na esquina das ruas Juncal e Uruguai, no bairro da Recoleta, em Buenos Aires, foi revistado por mais de uma dúzia de policiais, por ordem do juiz federal Claudio Bonadio, no final da manhã. Vários cães policiais acompanharam a operação. Por volta das 14h, a ação de busca e apreensão foi repetida em sua casa em Río Gallegos, em Santa Cruz. Ainda não começou a operação na sua terceira propriedade, em El Calafate, na mesma província.
A operação policial em Buenos Aires foi acompanhada pelo advogado de Cristina Kirchner, Carlos Beraldi. “Estamos diante de uma farsa. Vamos pedir a anulação de todo o procedimento e um processo político contra o juiz”, afirmou. “Bonadio não está cumprindo com o que disse o Senado. Começaram pela filmagem, e se comportam de maneira ilegal”, completou, referindo-se aos policiais.
O Senado proibira gravações dos procedimentos, em respeito à privacidade da ex-presidente. Mas as imagens não teriam sido gravadas pela polícia, mas sim pela imprensa. Drones de meios de comunicação argentinos filmaram o prédio, aproximaram-se dos últimos andares, onde vive Cristina Kirchner, e mostraram a concentração de pessoas em frente ao edifício.
Do lado de fora, manifestantes contrários a Kirchner e seus apoiadores dividiram os espaços, sem incidentes. O trânsito fluiu normalmente.
Cristina Kirchner é suspeita de comandar um esquema de corrupção que teria envolvido 160 milhões de dólares – o pagamento de empresários para vencer licitações de obras públicas entre 2005 e 2017. A atual senadora governou o país entre 2007 e 2015. Ela era primeira-dama entre 2005 e 2007.
A investigação tem como base as anotações de um ex-motorista do Ministério do Planejamento, que registrou todas as suas movimentações para buscar e entregar malas e sacolas de dinheiro. O esquema envolve também Julio de Vido, ministro de várias pastas dos governos de Néstor e de Cristina Kirchner.
Embora os críticos de Kirchner tenham afirmado que a incursão nas suas residências serão inúteis neste momento, alguns senadores disseram que será possível identificar visualmente os locais onde as sacolas com dinheiro teriam sido guardadas.
Kirchner nega ter cometido qualquer delito e acusa o juiz Bonadio de agir conforme os interesses do atual presidente argentino, Mauricio Macri. Cristina Kirchner responde por outros processos judiciais, entre os quais o de encobrimento dos iranianos responsáveis pelo atentado contra a associação judaica Amia, em 1994.