A polícia da Nicarágua invadiu e tirou do ar na noite de sexta-feira, 21, o canal de TV 100% Notícias e prendeu seu diretor, Miguel Mora, informaram familiares e colegas de trabalho, na mais recente investida do presidente Daniel Ortega contra críticos ao seu governo.
O canal 100% Notícias era o único canal do país que transmitia notícias 24 horas sobre a crise política que vive a Nicarágua desde abril. Seu diretor estava refugiado na emissora havia três semanas por ameaças que, disse, havia recebido do governo. “Podem me fazer tudo, prender-me, me fazerem desaparecer, mas aqui estaremos até as últimas consequências”, disse Mora na quinta-feira, 20, em entrevista à Reuters em seu escritório.
Mora é acusado pela fiscalização de incitação ao ódio e outros crimes. A polícia impediu o acesso de outras pessoas aos escritórios do canal de TV durante a invasão, disse uma testemunha. O regulador local ordenou às empresas de televisão paga que suspendam a transmissão de sinais da 100% Notícias.
No fim de novembro, o governo ordenou aos operadores de TV por satélite que retirassem de sua grade o sinal do canal. O 100% Notícias foi tirado do ar durante seis dias, quando estourou a crise em abril. Mora denunciou diversas vezes em seu programa que membros do governo pediam que ele mudasse sua linha editorial ou que enfrentasse as consequências.
A chefe de informação da estação, Lucía Pineda, que também foi presa, conseguiu transmitir ao vivo enquanto a polícia entrava nas instalações até que apagaram as câmeras de segurança e desconectaram o canal.
Parte dos jornalistas do canal foram aos Estados Unidos para continuarem as transmissões do canal, informou o secretário da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), o brasileiro Paulo Abrão.
Mauricio Madrigal, chefe de informação do Canal 10, que transmite o noticiário Acción 10, disse por telefone que este canal, o Canal 9 e o Canal 11, também foram retirados do sinal da maior empresa de cabo do país.
Na semana passada, a polícia nicaraguense confiscou os escritórios do jornalista Carlos Fernando Chamorro, assim como de uma dezena de ONGs que foram desabilitadas sob acusações de receber dinheiro para financiar um golpe de Estado.
Desde abril, milhares de pessoas saíram às ruas do país centro-americano para exigir a renúncia de Ortega, a quem acusam de comandar uma ditadura familiar. O governo expulsou na quarta-feira, 19, duas missões da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) dedicadas a investigar a violência nos protestos do país.
Nos oito meses de conflito, pelo menos 322 pessoas morreram e mais de 500 estão presas, segundo o Centro Nicaraguense de Direitos Humanos, uma das ONGs na lista negra do governo.