Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Por que a Pensilvânia deve definir quem será o próximo presidente americano?

Estado pêndulo se tornou o principal campo de batalha entre Kamala Harris e Donal Trump

Por Ricardo Ferraz, da Filadélfia
Atualizado em 4 nov 2024, 09h56 - Publicado em 3 nov 2024, 12h47
  • Seguir materia Seguindo materia
  • No topo de um dos edifícios mais tradicionais da Market Street, no centro da Filadélfia, vê-se uma foto da vice presidente Kamala Harris pedindo o apoio da comunidade latina. Poucos segundos depois, é a vez do painel digital exibir o nome de Donald Trump. Ainda que sejam apenas peças comuns de publicidade, a cena demostra o quanto a Pensilvânia, o berço da independência americana, no nordeste dos Estados Unidos, se tornou o estado mais disputado entre os dois candidatos à presidência.

    Não há uma ação do partido democrata que não seja igualmente rebatida pelos republicanos. Na TV, a lógica é a mesma, com praticamente todos os intervalos comerciais alternando anúncios agressivos dos dois adversários. Não há segredo para explicar tanto empenho: entre os sete estados pêndulo, a Pensilvânia é o que pode decidir a eleição por congregar 19 delegados no colégio eleitoral. Quem conquistar a preferência do eleitor fica mais perto de obter os 270 votos necessários na votação indireta que elege o presidente, pelo sistema americano.

    Não à toa, Harris e Trump irão se revesar na reta final com comícios e eventos pelo estado. Na segunda-feira, a vice-presidente irá realizar um comício na frente do Museu de Arte da Filadélfia, um dos cartões postais mais famosos da maior cidade do estado (aquele em que Silvester Stalone sobe a escada correndo, em Rocky). Já Trump vai fechar a campanha em Pittsburgh, segundo maior polo urbano, profundamente  marcado pela desindustrialização.

    Um eleitorado em mudança

    Durante 20 anos, entre 1992 e 2012, a Pensilvânia pendeu mais para os  democratas, integrando o chamado muro azul (em alusão à cor do partido), dada a identificação dos sindicatos e movimentos trabalhistas com essa corrente política. Michigan e Wiscosin , dois outros swing states, eram os dois outros tijolos dessa parede que parecia impenetrável para os republicanos. A coisa começou a mudar quando Trump entrou no jogo em 2016 e venceu a batalha do norte por poucos pontos, graças à força demonstrada fora das grandes áreas urbanas. Em 2020, Biden voltou a recuperar a vantagem, mas também por margem estreita: pouco mais de 1%.

    O que vai acontecer agora é realmente um mistério. Nenhum estado americano está sendo tão escrutinado pelos institutos de pesquisa quanto a Pensilvânia. Em todas, há um empate técnico dentro da margem de erro. O número de indecisos também é recorde, o que tem levado a fortes mobilizações dois dois lados do espectro político. O desafio é desenhar diversas estratégias para abordar diferentes perfis demográficos deste canto dos Estados Unidos; Ele é geograficamente grande e populoso, com uma mistura de áreas urbanas, subúrbios – mais propensos a Harris – e cidades de médio porte e regiões rurais consideráveis, que tendem a optar por Trump.

    Continua após a publicidade
    Anúncios Kamala e Trump Filadélfia
    Anúncios de Harris e Trump no mesmo edifício da Filadélfia: disputa acirrada (Ricardo Ferraz/VEJA)

    Desigualdade

    Embora esteja localizada em uma área próspera dos Estados Unidos, a Pensilvânia exibe contrastes marcantes. Pelas ruas do charmoso centro da Filadélfia, onde a arquitetura moderna convive com opulentos prédios históricos, muitos moradores de rua, claramente sobre efeito constante de drogas, se aglomeram.

    À medida em que a noite cai, muitos se acomodam nas marquises dos prédios, pontos de ônibus e tampas de bueiros que são também saída de vapor, uma maneira de espantar o frio dessa época do ano. Eles disputam lugar nas calçadas com pastores evangélicos que acendem incensos e fazem da rua seu púlpito nos finais de tarde, enquanto as pessoas saem do trabalho e se dirigem para as linha de metrô.

    Continua após a publicidade

    Já nos subúrbios, a realidade é diametralmente oposta. À medida em que o centro vai ficando para trás, as casas típicas da classe trabalhadora (muitas abandonadas) vão dando lugar à paisagens bucólicas, com mansões cercadas de grama verde,  e enormes olmos no quinal que, no outono ficam multi coloridos. Na beira da estrada, concessionárias de marcas de luxo, como Ferrari e Mc Laren disputam a atenção dos motoristas. VEJA visitou o condado de West Chester, nos arredores de Filadélfia, onde democratas e republicanos se mobilizam.

    “É a eleição mais importante da minha vida” diz que Nanci Lorback, 78 anos, uma professora aposentada do . Há mais de três décadas ela vota nos democratas e esse ano se voluntariou para ligar para eleitores e tentar persuadi-los a comparecer às urnas. “Trump só quer que pessoas como ele tenham sucesso e isso é muito triste”.

    A menos de três quadras da casa de uma senadora estadual democrata, que abriu suas portas para esse tipo de atividade, Janine Baker, 86 anos , Nikole Baker, 61 anos, mãe e filha, pregam o fim do aborto legal na calçada de uma das ruas mais movimentadas do condado. Ambas votam em Trump. “Ele representa valores conservadores, foi o presidente mais pró-vida que os Estados Unidos já elegeram”, justifica Nicole.

    Continua após a publicidade

    Demografia

    A Pensilvânia segue o mesmo perfil demográfico de outros campos de batalha do norte. A população, em geral, é mais branca do que a do resto país como um todo – cerca de 73%, em comparação com 53% em nível nacional. É dentro desse segmento que se concentra uma notável parcela do eleitorado que tem feito a diferença nos últimos pleitos: eleitores  sem diploma universitário,  que representaram quase a metade de quem compareceu às urnas em 2020. Tal grupo, principalmente a parcela masculina, passou a pender mais para o lado republicano nos anos Trump.

    Já os democratas apostam na cidade fortemente democrata da Filadélfia. Se nos subúrbios, com população mais educada. se moveu para esquerda, a cidade foi na direção contrária. Segundo as pesquisas,  a vantagem  dos democratas caiu cerca de 4 pontos em cada um dos últimos dois ciclos presidenciais, de 71 pontos em 2012 para  63 pontos em 2020.

    Quem tem feito a diferença são os negros, que, em todo estado, se concentram em Philly. Visivelmente, eles vivem nas áreas mais precárias da cidade e ocupam os cargos de menor remuneração. Segundo as pesquisas recentes , 79% optam por Harris, frente a 17% da preferência de Trump. Apesar da vantagem clara, os números estão bem abaixo da vitória obtida por Biden em 2020, que foi de 92% a 7%, entre esse estrato.

    Continua após a publicidade

    Outro grupo que passou a tender a Trump são os latinos. Harris lidera apenas por 54% a 41% entre os eleitores hispânicos, que representam apenas 5% do total do estado, mas em margens tão estreitas podem fazer a diferença. Não à toa, os democratas intensificaram campanha nas comunidades latinas explorando ao máximo o fato de um comediante ter comparado Porto Rico a uma ilha de lixo flutuante, durante um comício de Trump, em Nova York.

    Se o desfecho é incerto, os analistas concordam em afirmar que quem ganhar na Pensilvânia fica muito próximo de  vencer a eleição. Nos últimos dias, uma obviedade ganhou importante significado nas bocas de republicanos e democratas: “cada voto conta”. Será apertado.

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.