Por que as cerejeiras do Japão estão florescendo cada vez mais cedo?
O país registrou o florescimento mais prematuro em 1.200 anos, o que cientistas alertam que é um sintoma da mudança climática
A temporada das flores de cerejeira no Japão, conhecidas como “sakura”, começou cedo neste ano. Na capital Tóquio, os botões começaram a desabrochar no dia 22 de março, a segunda data mais prematura já registrada na história, enquanto na cidade de Quioto as flores atingiram o pico em 26 de março – momento mais cedo em 1.200 anos.
Além disso, o “hanami”, costume tradicional japonês de contemplar a beleza das cerejeiras, também deve acabar prematuramente. Geralmente, multidões usufruem das paisagens até maio, com piqueniques, fotos e festas de exibição. Neste ano, a expectativa é que termine no início de abril.
Cientistas alertam que o fenômeno é um sintoma da crise causada pela mudança climática em todo o mundo, capaz de desestabilizar os sistemas naturais. O aumento das temperaturas faz com que as últimas geadas da primavera ocorram mais cedo, acelerando a floração.
As “sakura” são especialmente sensíveis ao calor e, desde 1820, o país ficou 3,5º C mais quente. Neste ano, ainda por cima, o inverno foi excepcionalmente frio, seguido por uma primavera rápida e quente, o que “despertou” os botões.
Segundo pesquisa do International Journal of Biometeorology, revista científica sobre meio ambiente, as flores de cerejeira em Quioto estão florescendo em média cerca de 10 dias antes do que há um século.
As duas principais fontes de aumento de calor são a urbanização e a mudança climática. Cidades grandes e industrializadas tendem a ficar mais quentes do que áreas rurais, o que provoca o efeito chamado ilha de calor. Mas não é nada comparado à ação da mudança climática, que causa aumento das temperaturas a longo prazo não somente na região, mas no mundo.
O problema está muito além de uma alteração na data de festivais ou do turismo para “hanami”. Como plantas e insetos dependem uns dos outros para, entre outras coisas, regular o tempo de seus ciclos de vida, o descompasso da floração das cerejeiras também perturba outras partes do ecossistema.
Ou seja, seus ciclos de vida ficam fora de sincronia. Flores podem desabrochar antes que os insetos estejam prontos, e vice-versa. Os animais podem não encontrar alimentos suficientes, enquanto as plantas não terão polinizadores suficientes para reproduzir.
De acordo com um estudo de 2009 da Biological Conservation, algumas populações de plantas e animais já começaram a mudar para “altitudes mais altas” e “latitudes mais altas” para escapar dos efeitos da mudança climática. No entanto, está ficando cada vez mais difícil para os ecossistemas se adaptarem, devido ao clima progressivamente mais imprevisível.
Segundo a emissora CNN, os ecossistemas não estão acostumados às grandes flutuações causadas pelas mudanças climáticas, o que causa estresse e reduz a produtividade de ecossistemas – que podem até entrar em colapso no futuro.
O fenômeno não se restringe ao Japão: as flores de cerejeira em Washington, D.C., nos Estados Unidos, também floresceram prematuramente. De acordo com o National Park Service, o pico das flores já retrocedeu cerca de sete dias, de 5 de abril a 31 de março.
Além disso, as cerejeiras estão longe de serem as únicas afetadas, o que representa grandes problemas para a segurança alimentar e a subsistência dos agricultores. O abastecimento de alimentos em algumas das regiões do mundo já está sendo afetado por secas e até enxames de gafanhotos. Mas a mudança climática pode ir mais adiante, forçando agricultores a mudar os tipos de plantações que cultivam por conta de alterações no ambiente.