Uma delegação de sete membros do Congresso dos Estados Unidos se reuniu nesta quarta-feira, 19, com o dalai-lama em Dharamsala, na Índia. A visita irritou a China, que enxerga o líder espiritual do budismo tibetano como um separatista perigoso. Durante o encontro, os legisladores americanos afirmaram ao dalai-lama que não deixariam que o governo chinês influenciasse a escolha de seu sucessor.
O grupo, liderado pelo republicano Michael McCaul, contou com a participação da ex-presidente da Câmara dos Deputados, a democrata Nancy Pelosi. Eles chegaram nesta terça-feira 18 em Dharamsala, cidade onde o líder mora desde que fugiu do Tibete, após uma rebelião fracassada contra o domínio de Pequim na região em 1959. As autoridades chinesas não possuem qualquer diálogo com os representantes do ganhador do Prêmio Nobel da Paz desde 2010.
“Ainda esta semana a nossa delegação recebeu uma carta do Partido Comunista Chinês, alertando-nos para não virmos aqui, mas não deixamos o PCC nos intimidar. Estamos aqui hoje”, disse McCaul.
Além do dalai-lama, a delegação também se reuniu com outros funcionários do governo tibetano no exílio, que buscam mais autonomia.
Após o encontro, os sete parlamentares fizeram um discurso para centenas de pessoas que se reuniram nos arredores da residência do líder espiritual. Segundo eles, o foco principal da visita foi destacar a importância da Lei Resolve Tibete, aprovada no Congresso dos Estados Unidos na semana passada, que encoraja o diálogo entre o dalai-lama e o governo da China para chegar a uma resolução pacífica entre as duas nações. O projeto ainda precisa da assinatura do presidente americano, Joe Biden, para entrar em vigor.
De acordo com Pelosi, a legislação é uma “uma mensagem ao governo chinês de que temos clareza no nosso pensamento e na nossa compreensão da questão da liberdade do Tibete”.
Reação chinesa
O recém-aprovado projeto de lei provocou uma reação furiosa de Pequim. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, afirmou nesta terça-feira 18 que não apoia a independência do Tibete e que a Casa Branca não deve sancionar a legislação. Caso contrário, a China se veria forçada a adotar certas “medidas resolutas”, ameaçou.
“Todos sabem que o 14º dalai-lama não é uma figura puramente religiosa, mas um exilado político envolvido em atividades separatistas anti-China sob o manto da religião”, disparou Lin, pedindo que Washington “não mantenha contato com o dalai-lama”.
O líder nega ser um separatista, argumentando que apenas defende a autonomia da cultura budista do Tibete. Ele tem um histórico de envolvimento com autoridades americanas, incluindo presidentes. Mas, até momento, Biden não é um deles.
O dalai-lama viajará nesta quinta-feira, 20, para os Estados Unidos para fazer um tratamento médico nos joelhos. Não se sabe se ele vai encontrar alguma autoridade enquanto estiver lá.
A visita da delegação americana à Índia ocorre no momento em que Washington e Pequim voltaram a ter canais de diálogo, depois de anos de uma relação bilateral turbulenta que começou com a imposição de tarifas sobre produtos chineses durante a administração de Donald Trump.