O deputado democrata Adam Schiff, chefe do Comitê de Inteligência da Câmara dos Estados Unidos, não descarta o início de um processo de impeachment por seu partido contra o presidente americano, Donald Trump. Mas antevê o fracasso da iniciativa por causa do apoio incondicional dos parlamentares republicanos ao líder.
O possível processo de impeachmente teria como base uma nova versão, ainda censurada, do relatório elaborado pelo procurador-especial Robert Mueller sobre a investigação sobre a interferência da Rússia em favor da eleicão de Trump em 2016 e também de suas de supostas ações de obstrução de Justiça.
O documento editado pelo Departamento de Justiça conclui não haver “provas suficientes para apoiar acusações criminais” relacionadas com os “vários contatos entre indivíduos vinculados ao governo russo” e a campanha eleitoral de Trump. Mas lança dúvidas sobre uma possível obstrução à Justiça.
Em entrevista à emissora de televisão ABC, Schiff disse que os republicanos “estão dispostos a levar água ao presidente independentemente de sua conduta ser corrupta, imoral e desonesta”. “No entanto, pode ser que empreendamos um processo de impeachment. Acredito que, como convenção, vamos decidir o que é melhor para o país”, afirmou, para em seguida refletir que a inação dos democratas nesse caso seria um “sinal de que, de alguma maneira, a conduta deste presidente está bem.”
Segundo o presidente do Comitê de Inteligência, há outros meios a serem considerados, como a supervisão. Schiff apontou que essa decisão será “muito significativa” e optou por reservar sua opinião sobre o tema à espera da deliberação do Partido Democrata.
A senadora e pré-candidata democrata à Casa Branca Elizabeth Warren pediu há dois dias à Câmara dos Deputados o início deum processo de impeachment contra Trump. Ela alegou a gravidade das revelações do relatório de Muller sobre a trama russa na eleição de 2016.
“A gravidade de sua má conduta exige que os funcionários eleitos de ambos os partidos deixem de lado considerações políticas e cumpram com o dever constitucional. Isso significa que a Câmara deveria iniciar o processo de impeachment contra o presidente de EUA”, escreveu a senadora na sua conta do Twitter. “Há muitas pessoas que dizem: ‘Isso é politicamente complicado, os democratas não deveriam ir por esse caminho, apenas fiquem longe disso, há uma eleição chegando’. Mas existem algumas coisas que são maiores que a política”, completou Warren no sábado 20.
Outros pré-candidatos democratas, porém, preferem o topo do muro. O senador Cory Booker ainda não quer essa alternativa sobre a mesa. Outros, como o senador esquerdista Bernie Sanders, dizem que as investigações do Congresso devem continuar. Pete Buttigieg, prefeito de South Bend, no estado de Indiana, diz que o árbitro final deve ser o eleitor.
Candidato à reeleição, Trump chamou partes do relatório “completa bobagem” e disse que a investigação era um “grande, gordo desperdício de tempo, energia e dinheiro”. A Rússia negou a interferência na eleição.
Mas, assim como Schiff, alguns pré-candidatos estão deixando a porta aberta para o impeachment, incluindo o ex-secretário de Habitação, Julián Castro, que disse na sexta-feira 19 à CNN que era “perfeitamente razoável” seguir essa via agora. O governador do estado de Washington, Jay Inslee, e o deputado Eric Swalwell, da Califórnia, insistiram que o impeachment não deveria ser retirado da mesa.
Outros candidatos presidenciais foram mais cautelosos. Perguntado se o impeachment deveria estar sobre a mesa neste momento, Cory Booker, senador de New Jersey, disse aos repórteres: “Não.” Como outros candidatos céticos em relação ao impeachment, Booker, que passou vários dias no Estado de Nevada após o relatório, pediu que as investigações do Congresso continuassem. O senador Kamala Harris, da Califórnia, defendeu o mesmo em eventos na Carolina do Sul no fim de semana.
O ex-vice-presidente Joe Biden, que pode anunciar a tentativa de concorrer à Casa Branca nesta semana, ainda não se manifestou desde a divulgação do relatório.
(Com EFE e Agência Estado)