A primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, prometeu nesta terça-feira, 19, que jamais vai pronunciar o nome do atirador de Christchurch, que abriu fogo contra fieis muçulmanos em duas mesquitas na última semana, matando cinquenta pessoas. Em discurso no Parlamento, Ardern recomendou que os congressistas sigam seu exemplo, negando ao terrorista aquilo que “ele mais queria”: a notoriedade.
“Vocês nunca me ouvirão mencionando seu nome”, afirmou Ardern. “Ele é um terrorista, um criminoso, um extremista, mas ele será, quando eu falar, alguém sem nome, e eu imploro a vocês: digam o nome daqueles que se foram em vez do nome daquele que os tirou de nós. Ele pode ter buscado a notoriedade, mas nós, na Nova Zelândia, não lhe daremos nada, nem mesmo o seu nome.”
Aos 37 anos, a líder neozelandesa é a mais jovem chefe de Estado do mundo e, desde o massacre, na última sexta-feira 15, vem angariando elogios da imprensa internacional por sua abordagem sensível do assunto. Ela se apresentou como a “voz do luto de uma nação.”
No sábado 16, um dia depois do ataque, Ardern visitou a cidade de Christchurch vestindo um hijab, tradicional véu da cultura muçulmana. Em uma sala, encontrou-se com parentes e amigos das vítimas do atentado nas duas mesquitas. Antes mesmo dos resultados dessa conversa, sua decisão de usar o adereço religioso já foi vista com bons olhos pela comunidade.
“As pessoas estavam um tanto surpresas. Vi o rosto das pessoas quando ela estava usando o hijab. Havia sorrisos em seus rostos”, disse à CNN Ahmed Khan, um sobrevivente do ataque que perdeu um tio na mesquita Al Noor.
Em outra iniciativa popular, a premiê anunciou quase imediatamente a revisão das leis sobre porte e posse de armas na Nova Zelândia. Na segunda-feira 18, ela garantiu que deve apresentar mudanças restritivas já nos próximos dez dias. A governante disse se inspirar no exemplo do ex-primeiro-ministro australiano John Howard, que restringiu a posse de armas duas semanas depois do massacre no Porto Arthur, na Tasmânia, em 1996, que deixou 35 mortos.
Ainda ontem, as autoridades neozelandesas concordaram com mudanças iniciais na lei, a serem detalhadas na próxima semana. Elas devem incluir o banimento de armas semiautomáticas. A medida já angariou apoio em Christchurch, onde policiais fortemente armados continuam a vigilância pelas ruas, repletas de flores em homenagem àqueles que morreram no ataque.
Algemado e descalço, o autor do massacre, um australiano identificado como Brenton Tarrant, de 28 anos, compareceu no sábado 16 a um tribunal na Nova Zelândia. Sob escolta de dois policiais, o atirador ficou em silêncio durante a audiência, mas olhou para fotógrafos e jornalistas autorizados a entrar no tribunal e, segundo o jornal New Zealand Herald, sorriu quando entrou na corte.
Em concordância com o posicionamento da primeira-ministra, o juiz Paul Kellar, designado para o caso, determinou que as imagens do assassino no tribunal fossem borradas. Uma nova audiência foi marcada para 5 de abril. Até lá, o terrorista ficará preso sem direito a fiança.
(com Reuters)