Premiê do Reino Unido recebe ‘fact check’ do próprio governo
Em debate eleitoral, Rishi Sunak citou dados errados e foi prontamente corrigido pelo Tesouro
Uma carta do Tesouro do Reino Unido desmentiu uma informação apresentada pelo primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, em um debate televisionado nesta terça-feira, 4, a pouco mais de um mês das eleições gerais, marcadas para 6 de julho. Segundo o premiê, dados do Tesouro indicam que o Partido Trabalhista irá “aumentar os impostos de todos em £2.000”, uma gafe que pode colocar sua credibilidade em xeque para eleitores indecisos.
“Funcionários independentes do Tesouro calcularam os custos das políticas do Partido Trabalhista e eles somam um aumento de impostos de £2,000 para cada família trabalhadora”, afirmou.
A fala estaria embasada por um documento do Partido Conservador, liderado por Sunak, que afirma que o Partido Trabalhista teria de encontrar 38,5 mil milhões de libras (49,2 mil milhões de dólares) para cobrir o valor das propostas de campanha, de forma a culminar no aumento dos impostos em “2.094 libras por família trabalhadora durante os próximos quatro anos”. O texto acrescenta, ainda, que “quase todos os custos aqui contidos foram conduzidos pelo Tesouro”.
A declaração de Sunak e o levantamento conservador, no entanto, contrariam uma carta do secretário-chefe do Tesouro, James Bowler, emitida na véspera do debate. A correspondência já adiantava que “os funcionários públicos não estavam envolvidos na produção ou apresentação do documento do Partido Conservador ‘Aumentos de Impostos Trabalhistas’ ou na cálculo do valor total utilizado”.
Bowler destacou, além disso, que “quaisquer custos derivados de outras fontes ou produzidos por outras organizações não devem ser apresentados como tendo sido produzidos pela Função Pública” e informou que a orientação havia sido repassada para “Ministros e conselheiros”. Ou seja, na prática, o premiê levou um “fact check”, ou uma checagem de fatos, do próprio governo.
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Panorama eleitoral
O deslize, por ora, parece não ter contaminado a opinião pública sobre o desempenho do primeiro-ministro no debate com a líder trabalhista, Keir Starmer. Sondagens mostram que 51% dos espectadores achavam que ele teve uma performance melhor, em comparação com 49% de Starmer. Poderia ser uma boa notícia, se o Partido Trabalhista não liderasse com folga as pesquisas eleitorais: ele arremata 45% das intenções de voto, contra 23% do Conservador. Caso o cenário seja concretizado, será a primeira vez desde 2005 que os trabalhistas assumem o poder.
A semana, como um todo, está longe de tranquila para Sunak. Nigel Farage, arquiteto por trás do turbulento divórcio entre Reino Unido e União Europeia, anunciou na segunda-feira, 3, que concorrerá como candidato do seu partido ultradireitista Reform UK nas eleições legislativas do país, previstas para 4 de julho. É um golpe abrupto para o premiê, já que Farage deve puxar votos já escassos de eleitores da direita.