Depois de apresentar na semana passada sua renúncia após uma rebelião na ampla coalizão de unidade nacional, o primeiro-ministro da Itália, Mario Draghi, não alcançou maioria durante um voto de confiança no Senado nesta quarta-feira, 20. Com isso, o governo está prestes a ser desfeito, à medida que o premiê afirmou que só permaneceria no cargo com amplo apoio.
Antes mesmo do fim da sessão no Senado, Draghi seguiu à sede da Presidência para uma reunião com o presidente Sergio Mattarella, já com intuito de oficializar sua renúncia.
A coalizão governista, que abrangia todos os principais partidos italianos, com exceção do Irmãos da Itália, da extrema-direita, perdeu três membros importantes. Dois da direita, a Força Itália, de Silvio Berlusconi, e a Liga, de Matteo Salvini, se recusaram a votar durante a moção, enquanto o antissistema Movimento 5 Estrelas se absteve.
O Cinco Estrelas, que conquistou 33% dos votos em 2018 e, como resultado, ainda é o maior partido do governo. Desde então, desmoronou. O partido perdeu cerca de dois terços de seu apoio nacional e pode ser dizimado na próxima disputa eleitoral.
Mais cedo nesta quarta-feira, Draghi afirmou que a revolta do 5 Estrelas significava “o fim” do pacto de confiança que alimentou seu governo e que era inaceitável. Se um partido pode se rebelar, qualquer um “poderia rebelar-se”, alertou. Ele disse que, por ter sido nomeado primeiro-ministro interino e não eleito diretamente, sua legitimidade dependia de “o maior apoio possível”.
“O único caminho a seguir, se quisermos ficar juntos, é reconstruir de cima este pacto, com coragem, altruísmo e credibilidade”, disse Draghi em um discurso ao Senado italiano, antes do voto de confiança.
No entanto, muitos analistas acreditam que o Parlamento não poderia realizar muitos feitos sem Draghi e sua reputação de estadista europeu sênior que salvou o euro como presidente do Banco Central Europeu.
Caso o cargo de primeiro-ministro fique vago, uma situação de instabilidade pode surgir não apenas no território italiano, mas também em toda a Europa. A União Europeia, cujo Draghi é um grande defensor, luta para manter a unidade e a cooperação na resposta contra a Rússia na invasão da Ucrânia.
A incerteza, depois de uma maré relativamente estável, foi imediata. Para o ministro das Relações Exteriores italiano, Luigi di Maio, o dia de hoje significa “uma página sombria para a Itália”.
“A política falhou, diante de uma emergência a resposta foi a de não saber assumir a responsabilidade de governar. O futuro dos italianos foi usado como se fosse um jogo. Os efeitos dessa escolha trágica ficarão na História”, escreveu nas redes sociais.
Desde que Draghi assumiu o cargo, no início de 2021, após pedido do presidente da Itália para que ele resolvesse a crise política criada pelo colapso do governo de Conte, o primeiro-ministro liderou o país no combate à pandemia da Covid-19 e encheu o governo de especialistas que sacudiram a Itália de seu mal-estar político e econômico.
Draghi, frequentemente chamado de Super Mario por seu papel em salvar o Euro durante seu período como presidente do Banco Central Europeu, impulsionou imediatamente a posição internacional da Itália e a confiança dos investidores. A promessa de uma mão firme ajudou a Itália a receber mais de 200 bilhões de euros em fundos de ajuda da Europa, uma quantia transformadora que deu ao país sua melhor chance de modernização em décadas.
O ex-presidente do Banco Central trouxe um crescimento moderado para a Itália e fez reformas em seu sistema de justiça e código tributário, além de simplificar a burocracia e encontrar diversas fontes de energia fora da Rússia, incluindo renováveis.