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Presidente da CNN culpa Trump por tentativa de ataque à emissora

Em declarações recorrentes, o presidente dos Estados Unidos insulta e instiga a violência contra seus opositores e a imprensa americana

Por Denise Chrispim Marin Atualizado em 24 out 2018, 22h21 - Publicado em 24 out 2018, 19h42

O episódio da tentativa de ataques à CNN e a lideranças democratas trouxe à superfície uma reação improvável: a apatia do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Sua performance foi notada, mas diante de sua insistente e enfática tentativa de desmoralizar a imprensa americana e seus opositores, não chega a surpreender. Trump, se pudesse, passaria com o rolo compressor sobre ambos.

Jeff Zucker, presidente mundial da rede de televisão americana, não deixou em branco e responsabilizou Trump pelo tentativa de ataque a um órgão de imprensa. Por meio de comunicado, Zucker criticou a “falta total e completa de compreensão da Casa Branca sobre a gravidade de seus continuados ataques contra a imprensa”.

“O presidente, e especialmente a secretária de imprensa da Casa Branca, deveriam entender que suas palavras têm importância. Até agora, eles não demonstraram compreensão disso”, afirmou, referindo-se a recorrentes declarações contra a imprensa feitas também por Sarah Huckabee Sanders.

A CNN recebeu hoje um pacote com um explosivo caseiro, feito com tubos, e mais um envelope com um pó branco, que reacendeu o temor das ameaças com Antrax, em 2001. O pacote estava endereçado a Eric Holder, secretário de Justiça do governo de Barack Obama.

O ex-presidente e Hillary Clinton, senadora e secretária de Estado em sua gestão, receberiam pacotes com explosivos também. Mas foram interceptados pelo Serviço Secreto. O financista George Soros recebeu um deles, assim como o gabinete da deputada democrata Debbie Schultz, da Flórida — neste caso, endereçado ao ex-diretor da CIV, John Brennan. Um sexto pacote foi encontrado na tarde de hoje, encaminhado para deputada democrata Maxine Waters, da Califórnia.

Os ataques de Trump à imprensa e a seus opositores democratas são frequentes desde os tempos em que concorria nas eleições de 2016 contra a democrata Hillary Clinton, que tem sido insistentemente insultada pelo presidente — ele a chama, entre outros, de “desonesta” e de ter “lágrimas de crocodilo”.

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A imprensa tem sido igualmente tratada por ele como “desonesta”. Entre críticas aos jornalistas e meios de comunicação “falidos”, “fracassados”, “baixos”, “mentirosos”, disparadas sempre e quando alguma denúncia ou notícia lhe é desfavorável, Trump coleciona também episódios em que instiga seus eleitores a atacar a mídia.

No último dia 19, em comício republicano em Montana, Trump declarou que, quem agir como o deputado republicano Greg Gianforte contra o jornalista Ben Jacobs, do jornal The Guardian, é um dos seus. Trump elogiou Gianforte como um “cara durão”. Em maio do ano passado, ao ser questionado sobre o sistema público de saúde, o deputado republicano agrediu Jacobs aos socos.

Em agosto do ano passado, em um evento em Phoenix, no Arizona, o presidente tanto criticou e insultou a imprensa que a plateia por pouco não caiu em cima dos jornalistas ali presentes. Entre eles, estavam repórteres credenciados na Casa Branca, que viajaram com o presidente de Washington ao Arizona. Trump chamou os jornalistas de “doentes” e apontou onde estava a “mídia desonesta, essas pessoas ali encima junto com as câmeras”.

Nesta tarde, por volta das 16h30 (17h30, em Brasília), a central da CNN em Nova York foi reaberta, depois de inspeções de equipes de segurança. Mas a impressão de que, no final das contas, qualquer ataque aos meios de comunicação dos Estados Unidos está vinculado às declarações de Donald Trump ficou presente no ar.

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“São tempos problemáticos, não são?”, resumiu Hillary Clinton nesta quarta-feira, em um evento de campanha. “E não é hora de tempo de aprofundar as divisões e temos de fazer tudo o que pudermos para manter nosso país unido”, completou, em seu tom de estadista, com o cuidado de não entrar em detalhes nem em apontar responsáveis.

Philippe Reines, ex-colaborador da campanha de Hillary em 2016, foi menos diplomático e culpou o presidente dos Estados Unidos e lhe enviou uma mensagem direta.

“Donald Trump, com toda a fibra de seu ser pútrido, incitou e perdoou o ódio”, afirmou Reines pelo Twitter. “Nunca, nestes 643 dias (de governo), você (Trump) desencorajou as pessoas a acabar com a violência dentro delas. A sua real existência requer ódio e medo. Você precisa disso como pessoas normais precisam de oxigênio.”

A reação de Trump à primeira ameaça de atentado terrorista em solo americano desde 2001 foi marcada pela apatia. Primeiro, ele limitou-se a repetir, no Twitter, a mesma mensagem postada por seu vice-presidente, Mike Pence. Depois, como não poderia deixar de comentar a questão, deu uma brevíssima declaração em um evento comandado pela primeira-dama, Melania.

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Trump limitou-se a pedir a união no país, a dizer que as agências e órgãos federais estavam investigando — o que já se sabia —, e a sublinhar que a segurança do país é sua prioridade. Não gastou mais do que dois minutos e tampouco estendeu o roteiro básico de um chefe de Estado para ocasiões como a de hoje. Por fim, evitou uma declaração de solidariedade às potenciais vítimas.

Pouco depois, o coordenador da campanha de eleição Trump 2020, Brad Parscale, pediu desculpas por mensagem enviada por email antes do ataque à CNN, em nome de Lara Trump, na qual mencionara a rede de televisão como uma das responsáveis por divulgar fake news contra o presidente. “Eu tenho alguns furos para a CNN… Esta é a América real que existe fora da bolha progressista. Chegou a hora de o povo americano despertar de novo a mídia”, dizia o texto enviado a milhões de americanos.

Pelo Twitter, Parscale alegou que a campanha era pré-programada e automática e que não poderia perdoar violência contra a CNN ou qualquer outro.

Mais solidários, alguns políticos republicanos lamentaram o episódio e se solidarizaram com os democratas que seriam alvos e com a CNN. A única autoridade da Casa Branca a efetivamente condenar os atos foi Pence. O líder do Partido Republicano na Câmara, Steve Scalise, considerou as tentativas de ataque como “puro terror”. “Violência e terror não têm lugar na nossa política e na nossa sociedade”, afirmou pelo Twitter.

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A tentativa de ataque aos líderes democratas, a Soros e à CNN é o primeiro sofrido em solo americano desde 2001, quando a organização terrorista Al-Qaeda atacou Nova York e Washington, além do avião derrubado na Pensilvânia.

Sete dias depois daquele 11 de setembro, cartas contaminadas com Antrax foram enviadas para os senadores democratas Tom Daschle e Patrick Leary e para cinco meios de comunicação: as redes de televisão ABC News, CBS News, NBC News e os jornais New York Post e National Enquirer. Cinco pessoas morreram e outras 17 foram contaminadas. Um dos suspeitos de executar o ataque, o cientista Bruce Edwards Ivins, se matou em 2008.

 

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