O presidente do Parlamento do Canadá, Anthony Rota, deixou o cargo nesta terça-feira, 26, dias depois de homenagear um veterano ucraniano que lutou ao lado de unidades nazistas na Segunda Guerra Mundial durante uma sessão especial do legislativo. Convidado a participar da reunião, Yaroslav Hunka, de 98 anos, foi duas vezes aplaudido de pé e foi chamado de “herói” por Rota.
“Esta casa está acima de qualquer um de nós”, discursou ele aos legisladores, após informar a renúncia.
O episódio ocorreu depois de um discurso do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, no Parlamento canadense. Rota atentou para a presença de um ex-militar da Primeira Divisão ucraniana na plateia. Imagens mostram Zelensky, que erguia o punho, e Justin Trudeau, primeiro-ministro canadense, acompanhando o resto dos legisladores em uma salva de palmas.
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Os críticos apontam que o batalhão ucraniano era apelidado como Divisão Waffen-SS “Galicia” ou 14ª Divisão Waffen SS, sob comando dos nazistas. Seus membros foram, inclusive, acusados de matar civis poloneses e judeus. Indignado, o ministro da Educação da Polônia, Przemysław Czarnek, informou ter “tomado medidas” para que Hunka fosse extraditado.
“Tendo em conta os acontecimentos escandalosos no Parlamento canadiano, que envolveram a homenagem, na presença do Presidente Zelensky, a um membro da formação criminosa nazi SS Galizien, tomei medidas no sentido da possível extradição deste homem para a Polônia”, escreveu nas redes sociais.
Em resposta, o Kremlin definiu a exaltação como “ultrajante”. Entre as justificativas oferecidas pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, para invadir o território ucraniano, em fevereiro do ano passado, está a tentativa de “desmilitarizar e desnazificar” o país vizinho. Como consequência, as fotos de Zelensky aplaudindo Hunka foram logo usadas por grupos pró-Putin para defender o conflito.
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Nesta segunda-feira, Trudeau afirmou que a homenagem “claramente inaceitável” e que era “profundamente embaraçosa para o parlamento do Canadá e, por extensão, para todos os canadenses”. O coro foi engrossado pela ministra das Relações Exteriores, Mélanie Joly, nesta terça-feira, que definiu o episódio como “profundamente inaceitável”.
Apesar da tentativa de se afastar da gafe, Trudeau também foi criticado por políticos do país. O líder conservador, Pierre Poilievre, destacou que o premiê “trouxe vergonha ao Canadá”. Rota, por sua vez, alega que apenas “posteriormente tomou conhecimento de mais informações que me fizeram arrepender-me” dos atos, mas que aceita “total responsabilidade” por eles. A renúncia de Rota atende, então, à pressão interna para que o incidente não passe impune.