Presidente uruguaio critica fala de Lula sobre Venezuela
O petista afirmou que havia 'narrativas' sobre a situação política da Venezuela; Lacalle Pou participa de encontro em Brasília com líderes sul-americanos
O presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, fez uma crítica velada a uma fala do líder brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nesta terça-feira, 30, durante um evento em Brasília. O petista argumentou que se construíram “narrativas” sobre a situação política da Venezuela, ao que o uruguaio se disse “surpreso”.
“Esta reunião foi antecedida, não sei se de forma planejada, por uma bilateral entre Brasil e Venezuela. Fiquei surpreso quando foi dito que o que acontece na Venezuela é uma narrativa. Já sabem o que pensamos sobre a Venezuela e o governo da Venezuela”, afirmou ele durante discurso no encontro de líderes da América do Sul em Brasília, organizado por Lula.
Discurso en el Encuentro de Presidentes de los países de América del Sur. https://t.co/DiSRZb8qK3
— Luis Lacalle Pou (@LuisLacallePou) May 30, 2023
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O líder do Uruguai não citou o petista diretamente, mas, na véspera, Lula fez um pronunciamento controverso defendendo o regime de Maduro. Na ocasião, disse que as acusações de falta de democracia no país caribenho eram parte de uma “narrativa”.
“Cabe à Venezuela mostrar a sua narrativa, para que possa efetivamente fazer as pessoas mudarem de opinião. É preciso que você [Maduro] construa a sua narrativa. E a sua narrativa vai ser infinitamente melhor do que o que eles têm contado contra você”, afirmou.
Lula também acusou os Estados Unidos pela crise econômica e humanitária no país vizinho, dizendo que o bloqueio econômico de Washington contra Caracas era “pior que uma guerra”.
“Eu sempre acho que o bloqueio é pior do que uma guerra, porque na guerra, normalmente, morre soldado que está em batalha, mas o bloqueio mata criança, mulheres, pessoas que não têm nada a ver com a disputa ideológica que está em jogo”, disse o brasileiro.
Lacalle Pou, que costuma destoar de outros líderes da região mais alinhados à esquerda – e já criticou o Brasil e a Argentina por serem contrários ao acordo de livre comércio que Montevidéu negocia com China – alfinetou ainda que “não podemos tapar o sol com a mão”.
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“Se há tantos grupos no mundo tentando fazer mediações para que a democracia seja plena na Venezuela, para que os direitos humanos sejam respeitados, para que não haja presos políticos, o pior que podemos fazer é tapar o sol com a mão”, afirmou.
Tanto a Anistia Internacional e as Nações Unidas suspeitam que o governo venezuelano pode ter cometido crimes contra a humanidade. Segundo essas entidades, ativistas de direitos humanos, jornalistas e líderes indígenas são perseguidos no país. Estima-se que há pelo menos 300 presos políticos na Venezuela.
Lula realiza nesta terça-feira uma reunião de líderes sul-americanos, na tentativa de criar maior integração na região e, possivelmente, ressuscitar a Unasul (União de Nações Sul-Americanas). Mas o líder venezuelano, Nicolás Maduro, chegou mais cedo para uma visita oficial no domingo 28.
Lacalle Pou, por sua vez, criticou a criação de fóruns como a Unasul. Para ele, esses grupos são como “clubes ideológicos”.
“Quando assumimos o governo, saímos da Unasul. Em seguida chegou o convite para ingressar no Prosul, e dissemos não. Porque, se não, terminamos sendo clubes ideológicos”, disse.