Primeiro-ministro italiano Mario Draghi renuncia após colapso da coalizão
O populista 5 Estrelas retirou seu apoio do governo, e o moderado Draghi disse que entregará a renúncia ao presidente da Itália
O primeiro-ministro da Itália Mario Draghi vai anunciar a renúncia ao cargo nesta quinta-feira, 14, horas depois que o parceiro de coalizão populista Movimento 5 Estrelas retirou seu apoio em um voto de confiança.
O ex-chefe do Banco Central Europeu lidera um governo de unidade desde fevereiro de 2021, quando assumiu o cargo de Giuseppe Conte. Ele se tornou o sexto primeiro-ministro da Itália em dez anos.
Em um comunicado, Draghi disse que o pacto de confiança que sustentava o governo de unidade havia desaparecido.
“Vou entregar minha renúncia ao presidente da República esta noite”, disse ele.
Draghi sobreviveu a um voto de desconfiança no Senado italiano nesta quinta-feira, mas o futuro de seu governo virou incerto devido a um boicote do populista Movimento 5 Estrelas, um importante aliado da coalizão, à votação. O premiê já havia declarado que não tinha intenção de governar sem eles.
O Movimento 5 Estrelas tem sido criticado por sua oposição a um projeto de lei que, entre outras coisas, permitiria a Roma construir um incinerador de lixo fora da cidade para lidar com seus enormes problemas de lixo. Outros elementos do projeto de lei incluem uma redução de impostos sobre gás e diesel, bem como isenção de contas de serviços públicos para os consumidores.
Apesar de deserções de alto nível – como o ministro das Relações Exteriores Luigi di Maio, que deixou o partido para formar sua própria legenda –, o líder Giuseppe Conte se recusou a ceder na questão.
Embora o Movimento 5 Estrelas tenha sido o maior vencedor nas eleições de 2018, a organização vem perdendo parlamentares e apoio público. Analistas dizem que a posição do partido em relação ao incinerador e a votação de quinta-feira foram destinadas a reforçar o apoio dos eleitores.
Quem é Draghi para a Itália
O papel de Draghi como primeiro-ministro ajudou a estabilizar a Itália, bem como o papel do país na Europa. Isso não é pouca coisa em dois aspectos.
Em termos de política externa e geopolítica, Draghi evoluiu para uma figura-chave no cenário político europeu na medida em que a invasão da Rússia à Ucrânia aumentou a pressão sobre o bloco para agir.
Tirar Draghi do cargo agora arriscava “a desestabilização da Europa”, criticou Antonio Saccone – um aliado do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi. Saccone trovejou contra os membros do Movimento 5 Estrelas, dizendo: “Você estaria fazendo um favor a (o presidente russo Vladimir) Putin”.
Internamente, a presença de Draghi beneficiou a Itália – a terceira maior economia da zona do euro – aos olhos da União Europeia e do Banco Central Europeu, que apertou a política monetária em relação à Itália por causa de sua dívida e instabilidade política.
Draghi, uma figura conhecida com reputação de pragmatismo pouco visto na política italiana, tem sido amplamente considerado como uma garantia de que a Itália cumpriria as regras da União Europeia e do banco.
Ele também conseguiu promover algumas das reformas que o bloco disse que devem ser implementadas antes de fornecer 200 bilhões de euros (200 bilhões de dólares) em assistência ao país para a recuperação pós-pandemia. Se ele de fato renunciar, essa assistência pode não se materializar.
Novas eleições?
Os italianos devem ir às urnas no início de 2023, mas a saída de Draghi pode mudar isso rapidamente. O presidente Sergio Mattarella poderá aceitar ou rejeitar a renúncia, solicitar que Draghi se dirija ao Parlamento com um voto formal de confiança no governo ou dissolver o Parlamento e convocar eleições já em setembro.
Draghi conta com o apoio de uma ampla gama de partidos políticos e quase dos principais atores do país. Há uma exceção notável, no entanto: o partido de extrema direita Irmãos da Itália, que vem surfando uma onda de popularidade crescente. O partido nacionalista eurocético exigiu que Mattarella dissolva o governo e convoque novas eleições.