A procuradora-geral da Ucrânia, Iryna Venediktova, revelou nesta quarta-feira, 11, ao jornal britânico The Guardian que promotores ucranianos estão se preparando para começar os primeiros julgamentos de crimes de guerra, ocorridos durante a invasão da Rússia no país.
No banco dos réus, estarão três prisioneiros de guerra russos acusados de atacar ou assassinar civis. Um deles supostamente matou um homem antes de estuprar sua esposa. Mas mais de 10.700 crimes foram registrados desde o início da guerra pelo gabinete da procuradora-geral ucraniana.
Vadim Shysimarin, um comandante de 21 anos da Divisão de Tanques Kantemirovskaya, deve ser o primeiro a ser julgado pelo suposto assassinato de um homem de 68 anos. Ele é acusado de dirigir um carro roubado com quatro outros soldados enquanto tentava fugir de combatentes ucranianos e depois matar a tiros o civil desarmado, em uma bicicleta.
O crime teria acontecido perto da casa da vítima e foi cometido usando uma AK-74. O caso foi apresentado a um tribunal criminal nesta semana e o acusado está sob custódia do governo ucraniano.
“Os promotores e investigadores do SBU [serviços secretos ucranianos] coletaram evidências suficientes de seu envolvimento na violação das leis e acordos de guerra. Por essas ações, ele pode pegar de 10 a 15 anos de prisão ou prisão perpétua”, afirmou uma autoridade da procuradoria-geral.
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Em outro incidente que ocorreu no dia da invasão, 24 de fevereiro, alega-se que dois soldados russos usaram um lança-foguetes para bombardear casas e edifícios civis em Kharkiv. Os soldados foram presos pelo exército ucraniano e aguardam julgamento. O processo deles corre em um tribunal processual penal na Ucrânia, mas seus nomes ainda não foram divulgados.
O terceiro caso envolve um soldado chamado Mikhail Romanov. Ele foi identificado por meio de uma foto extraída de suas redes sociais pela promotoria, mostrando uma grande tatuagem de urso em seu peito.
Romanov é acusado de invadir uma casa em Brovarsky em março, onde assassinou um homem e depois estuprou sua esposa. Um segundo soldado também estuprou a mulher de 33 anos, enquanto ameaçava matar seu filho de 4 anos.
“Não sabemos onde Romanov está”, afirmou Venediktova ao Guardian. “Talvez ele ainda esteja lutando, talvez tenha voltado para a Rússia, talvez esteja morto. Não sabemos, mas queremos processá-lo à revelia.”
“Queremos mostrar para esses criminosos que os encontraremos. E evitaremos a morte de outras pessoas em outros territórios”, acrescentou.
Segundo a procuradora-geral, há 36 processos ativos contra suspeitos de crimes de guerra identificados, em vários níveis de progresso.
Órgãos internacionais também estão montando casos semelhantes contra a Rússia. O escritório de direitos humanos das Nações Unidas declarou que há evidências crescentes de crimes de guerra russos na Ucrânia, incluindo sinais de bombardeios indiscriminados e execuções sumárias.
Em visita à Ucrânia, o procurador-chefe do Tribunal Penal Internacional (TPI), Karim Khan, passou pelas cidades de Bucha e Borodyanka, ao norte do país, onde foram descobertos centenas de corpos de civis em valas comuns.
“A Ucrânia é uma cena de crime. Estamos aqui porque temos motivos razoáveis para acreditar que crimes dentro da jurisdição do TPI estão sendo cometidos”, disse Khan.
A Rússia, que descreve sua incursão como uma “operação militar especial” para desarmar e supostamente “desnazificar” a Ucrânia, nega ter como alvo civis ou cometer quaisquer crimes de guerra.
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