O presidente russo, Vladimir Putin, se reunirá com cerca de 20 líderes estrangeiros na cúpula de três dias do grupo Brics na cidade russa de Kazan, que teve início nesta terça-feira, 22, numa tentativa de mostrar que não está sozinho, apesar do isolamento político que o Ocidente impôs ao seu país em meio à guerra na Ucrânia.
Putin afirmou que “o Brics não se opõe a ninguém”. “Esta é uma associação de Estados que trabalham juntos com base em valores comuns, uma visão comum de desenvolvimento e, mais importante, o princípio de levar em consideração os interesses uns dos outros”, declarou.
O tema da 16ª Cúpula do Brics é “fortalecimento do multilateralismo para um desenvolvimento e segurança globais justos”. O Kremlin declarou que os líderes do grupo trocarão opiniões sobre “questões urgentes na agenda global e regional”, assim como sobre “os três principais pilares de cooperação identificados pela presidência russa: política e segurança, economia e finanças, e laços culturais e humanitários”.
O assessor de política externa de Putin, Yuri Ushakov, disse que 36 países confirmaram a participação na cúpula e que o presidente russo deve realizar cerca de 20 reuniões bilaterais com chefes de Estado. Segundo ele, a cúpula pode se tornar “o maior evento de política externa já realizado” em solo russo.
A guerra na Ucrânia, no entanto, não está em pauta, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, ao jornal Izvestia, alegando que os participantes poderiam “levantar essa questão a seu critério”. Quando questionado por repórteres sobre as perspectivas de um cessar-fogo, o presidente russo respondeu que Moscou não colocará em negociação o controle das quatro regiões anexadas do leste da Ucrânia, que, segundo ele, agora fazem parte do território russo.
Esta é a primeira cúpula do grupo desde sua expansão, em 2023, e o maior encontro internacional organizado por Putin desde a invasão russa à Ucrânia, em fevereiro de 2022. Egito, Irã, Emirados Árabes Unidos e Etiópia se juntaram a Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul no início deste ano.
“O que estamos assistindo no Brics é a uma visão geopolítica da China e da Rússia de transformar o bloco em um contraponto ao G7, e nitidamente uma tentativa de utilizar essas potências emergentes e países que são contra a ordem liberal internacional para tentar subverter, no médio prazo, o que está acontecendo no mundo, a atual ordem que foi implementada no pós-1945”, diz a VEJA o economista e cientista político Igor Lucena, CEO da Amero Consulting.
O Brics representa 45% da população mundial e 35% de sua economia, com base na paridade do poder de compra (PPI), sendo a China responsável por mais da metade de seu poder econômico.
Principais parceiros
Os principais parceiros internacionais da Rússia, incluindo o presidente chinês, Xi Jinping, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, estão em Kazan para o encontro.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Lin Jian, disse que Xi teria “trocas profundas” com outros líderes sobre “o cenário internacional, a cooperação prática do Brics, o desenvolvimento do mecanismo do Brics e questões importantes de interesse mútuo”, acrescentando que a cúpula deste ano marca “o início de uma maior cooperação entre os Brics”.
Ao receber Modi, o presidente russo falou sobre “relacionamento estratégico” de Moscou com a Índia. “As relações russo-indianas têm o caráter de uma parceria estratégica particularmente privilegiada e continuam a se desenvolver ativamente”, disse Putin.
Tanto a Índia quanto a China têm fornecido apoio econômico à Rússia ao longo da guerra contra a Ucrânia.
O presidente Lula também deveria marcar presença na reunião, mas foi obrigado a cancelar a viagem por causa de orientações médicas, depois de ter sofrido uma queda no Palácio da Alvorada, que provocou um traumatismo craniano. Ele participará da cúpula por videoconferência, segundo o Planalto.
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Ucrânia critica participação da ONU
O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia criticou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, por seus planos de comparecer à cúpula. Autoridades russas disseram no início deste mês que o chefe da organização internacional havia dito ao ministro das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, que estaria presente no evento do Brics.
Kiev afirmou que o secretário-geral aceitou um convite para a cúpula do “criminoso de guerra” Putin.
O porta-voz da ONU, Farhan Haq, por sua vez, disse a repórteres na segunda-feira que a presença de Guterres ainda não estava confirmada.