O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse nessa sexta-feira, 7, que não precisará utilizar armas nucleares para arrematar a vitória na guerra na Ucrânia. Em uma sessão do Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, ele descartou a possibilidade após ser questionado por um analista russo se o país deveria disparar uma “pistola nuclear apontada para a cabeça” do Ocidente na Ucrânia, em referência ao uso de armas ocidentais por tropas ucranianas no campo de batalha contra Moscou.
“O uso é possível em um caso excepcional – no caso de uma ameaça à soberania e à integridade territorial do país. Não creio que tal caso tenha ocorrido. Não existe tal necessidade”, respondeu Putin.
A declaração ocorre em meio à escalada de tensão entre a Rússia e países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), maior aliança militar ocidental. Na semana passada, Alemanha e Estados Unidos deram sinal verde para que a Ucrânia use armas doadas por seus governos contra alvos russos para a defesa de Kharkiv, segunda maior cidade ucraniana que entrou na mira do Kremlin no último mês. Segundo o senador republicano Mike Rounds, membro do Comitê de Serviços Armados do Senado, equipamentos militares americanos já entraram em ação nas linhas de frente.
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Ameaças de Putin
O tom adotado nesta sexta-feira difere das ameaças feitas por Putin ao longo da semana. Na quarta-feira, ele alertou a Alemanha de que o uso de armas doadas por Berlim a Kiev contra o território russo representaria um “passo perigoso” para a escalada da guerra, iniciada em fevereiro de 2022. A repórteres, também destacou que a ação “marcaria o seu envolvimento direto na guerra contra a Federação Russa”, e que se reservava do “direito de agir da mesma forma”. Ou seja, poderia conceder armas a inimigos do Ocidente para que ataquem alvos em seus territórios.
Os alertas foram ecoados pelo vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov. No fórum, ele advertiu os Estados Unidos de que enfrentarão “consequências fatais” caso não revoguem a permissão dada à Ucrânia. “Peço a estas figuras [nos EUA] para gastarem parte do seu tempo, que aparentemente gastam em algum tipo de videogame a julgar pela leveza de sua abordagem, no estudo detalhado do que foi dito por Putin”, acrescentou ele.
Em fevereiro, Putin ameaçou o Ocidente com o uso desses dispositivos, capazes de causar a “destruição da civilização”, após o presidente francês, Emmanuel Macron, ponderar sobre o envio de tropas da Otan ao campo de batalha ucraniano. A declaração, que teria sido “tirada de contexto”, segundo o Kremlin, faz parte do rol de alertas nucleares do líder russo desde o início guerra na Ucrânia.
Ao todo, a Rússia detém de 5.880 ogivas, dentre as quais 1.674 são operacionais, 2.815 estão estocadas e 1.400 foram aposentadas. O contingente é um pouco maior em comparação ao dos Estados Unidos, que somam ao menos 5.244 ogivas. Eles são seguidos por China (410), França (290) e Reino Unido (225). Ou seja, dos cinco maiores detentores de armas nucleares, três integram a Otan, fonte de dor de cabeça para Moscou.