O presidente da Rússia, Vladimir Putin, se reuniu nesta quinta-feira 28 com um dos principais ex-comandantes do Grupo Wagner, o exército de mercenários que ensaiou um golpe de Estado contra o Kremlin em junho e foi desmantelado em seguida. Segundo a mídia russa, os dois discutiram a melhor forma de usar as “unidades voluntárias” na guerra da Ucrânia.
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Imagens da reunião, que ocorreu no Kremlin, foram transmitidas na televisão estatal nesta sexta-feira, 29. Segundo o porta-voz de Putin, Dmitry Peskov, Troshev – antes conhecido pelo seu nome de guerra “Sedoi”, ou “cabelos grisalhos” –, agora trabalha no Ministério da Defesa, como presidente da Liga para a Proteção dos Interesses dos Veteranos de Guerras Locais e Conflitos Militares.
O vice-ministro da Defesa, Yunus-Bek Yevkurov, que viajou nos últimos meses para vários países onde os mercenários do Grupo Wagner operavam, também esteve presente.
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A reunião sublinhou a tentativa do Kremlin de mostrar que o Estado agora tem controle sobre o exército privado, poucos meses após uma revolta fracassada, liderada em junho pelo chefe do grupo, Yevgeny Prigozhin. Ele morreu junto à maior parte da cúpula do Grupo Wagner em agosto, num acidente de avião.
Segundo a mídia russa, os dois conversaram sobre como as “unidades voluntárias” podem contribuir para a “operação militar especial” russa, como o governo chama a guerra na Ucrânia.
“Você mesmo luta nessa unidade há mais de um ano”, disse Putin, dirigindo-se a Troshev . “Você sabe o que é, como é feito, sabe das questões que precisam ser resolvidas com antecedência para que o trabalho de combate corra da melhor maneira e com mais sucesso”.
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Putin também disse que queria falar sobre formas de apoio social aos envolvidos nos combates.
O destino do Grupo Wagner não está claro desde o golpe fracassado de Prigozhin, em 23 de junho, e sua morte exatos dois meses depois, em 23 de agosto, após a qual Putin ordenou que os mercenários assinassem um juramento de lealdade ao Estado russo. Prigozhin e muitos de seus homens se opuseram às condições.
O jornal russo Kommersant informou que, poucos dias depois do motim, Putin sugeriu que Troshev substituísse Prigozhin. Agora, a reunião entre os dois parece indicar que o que resta do Grupo Wagner será agora supervisionado por Troshev e Yevkurov.
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O grupo mercenário ficou conhecido pela captura da cidade ucraniana de Bakhmut em maio, na batalha mais sangrenta da guerra. Depois disso, os combatentes deixaram a Ucrânia, alguns se alistando no exército regular, enquanto outros adotaram diferentes empresas militares privadas .
A inteligência britânica informou nesta sexta-feira que centenas de ex-combatentes do Grupo Wagner já começaram a ser redistribuídos pela Ucrânia, em diversas unidades.
Troshev, um veterano condecorado das guerras russas no Afeganistão e na Chechênia e ex-comandante da SOBR, a força de reação rápida do Ministério do Interior, é de São Petersburgo, cidade natal de Putin, e já foi fotografado em diversas ocasiões com o presidente. Ele foi premiado com a medalha mais alta da Rússia, Herói da Rússia, em 2016, pela tomada de Palmyra, na Síria, contra militantes do Estado Islâmico.