Quase 70% das mortes em Gaza são de mulheres e crianças, diz ONU
Relatório denuncia violação dos princípios fundamentais do direito internacional humanitário por parte de Israel
O Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH, na sigla em inglês) publicou nesta sexta-feira, 8, um relatório revelando que quase 70% das mortes verificadas na guerra em Gaza são de mulheres e crianças.
O relatório aponta que, das 8.119 mortes comprovadas nos primeiros seis meses do conflito, 3.588 eram crianças e 2.036 eram mulheres. Embora o número seja significativamente menor que os mais de 43.000 óbitos registrados pelas autoridades de saúde palestinas ao longo dos 13 meses de guerra, o texto denuncia a elevada proporção de civis entre as vítimas.
No total, 44% das vítimas fatais verificadas são crianças, com maior incidência entre as faixas etárias de 5 a 9 anos, seguidas por jovens de 10 a 14 anos e crianças de até 4 anos. A vítima mais jovem era um bebê de 1 dia, e a mais velha, uma mulher de 97 anos. Além disso, 7.607 ocorreram em edifícios residenciais ou similares.
A ONU disse que os números indicam “uma violação sistemática dos princípios fundamentais do direito internacional humanitário”.
O chefe de direitos humanos das Nações Unidas, Volker Turk, condenou a “aparente indiferença” de Israel em relação à morte de civis em Gaza e o “desrespeito desenfreado” do país pelas regras de guerra, “projetadas para limitar e prevenir o sofrimento humano em tempos de conflito armado”.
O relatório alertou ainda que ataques “amplos ou sistemáticos” contra civis podem configurar “crimes contra a humanidade”. Se cometidos “com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso”, eles também podem constituir genocídio.
Situação em Gaza
As zonas onde as forças israelenses ordenaram a retirada de civis já abrangem 80% do território de Gaza, e quase 2 milhões de pessoas foram deslocadas dentro do enclave, de acordo com as últimas estimativas da agência de ajuda da ONU para refugiados palestinos, a UNRWA.
Na última segunda-feira, 4, o governo de Israel notificou oficialmente a ONU sobre o fim de sua cooperação com a UNRWA. Mais de 100.000 pessoas estão completamente privadas de ajuda humanitária no norte do enclave e a população enfrenta grave escassez de alimentos, água e medicamentos.
O relatório das Nações Unidas condenou “as contínuas falhas ilegais do governo israelense para permitir, facilitar e garantir a entrada de ajuda humanitária, bem como a destruição de infraestrutura civil e os sucessivos deslocamentos em massa”.
Ao todo, mais de 43.000 pessoas foram mortas na Faixa de Gaza desde 7 de outubro de 2023, segundo o Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas. Ao menos 3,3 milhões de palestinos, 2,3 milhões deles em Gaza e 1,5 milhão deles crianças, precisam de assistência humanitária urgente, de acordo com o levantamento do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).