Se a pandemia criou um herói popular nos Estados Unidos, ele é o médico americano Anthony Fauci, de 79 anos, respeitado imunologista que nos últimos dois meses aparece ao lado de Donald Trump nas coletivas sobre o andamento do combate ao vírus — muitas vezes “reformulando”, diplomaticamente, alguma barbaridade que o presidente tenha pronunciado. À frente da força-tarefa de cientistas que assessora a Casa Branca na crise, Fauci não mede palavras sobre a gravidade do momento, prima pela clareza e cumpre seu papel de voz do bom senso, em contraponto às trapalhadas do governo. Conhecido fora da bolha da academia — seu rosto está em memes, camisetas e canecas —, ele conta com um fã-clube no Twitter e, glória das glórias, Brad Pitt em pessoa recentemente o interpretou no humorístico Saturday Night Live (Fauci gostou — “Pitt tem classe”).
Baixinho, elegante, com o sotaque típico dos nova-iorquinos descendentes de italianos, Fauci colhe aplausos a cada correção de declarações dadas pelo chefe. Quando Trump alegou em março que o surto estava sob controle, ele rebateu que o pior ainda estava por vir. Fez pouco da cloroquina, exaltada pelo presidente como medicamento eficaz no tratamento da Covid-19: “As evidências até agora são uma piada”. Atribui-se a ele a postergação da retomada das atividades nos Estados Unidos, que Trump queria para a Páscoa. Por essas e outras, uma pesquisa mostrou que Fauci tem a confiança de três em cada cinco americanos. “Ele exerce a liderança científica de que precisamos neste momento obscuro”, disse a VEJA Michael Merson, ex-diretor do Programa Global para a Aids da Organização Mundial da Saúde.
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Clique e AssineDiretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas, Fauci vem assessorando as ações da Casa Branca no combate a epidemias ao longo de 36 anos e seis governos — sem jamais deixar escapar suas preferências políticas. Sobressaiu na década de 80, ao aceitar a colaboração de grupos gays em pioneiras pesquisas na busca de tratamento para a aids. Atuou em forças-tarefa contra a Sars, a gripe aviária, a gripe suína, a zika e o ebola. “Seus estudos servem de base para outros países, inclusive o Brasil”, elogia o carioca Bruno Scarpellini, doutor em doenças infecciosas. Casado com uma especialista em bioética, pai de três filhas e com um notório fraco por meias coloridas, Fauci recebeu nesses últimos tempos ameaças de morte, sofreu tentativas de descrédito nas redes por parte de apoiadores de Trump e teve a segurança reforçada. Segue em frente, mais pop que nunca.
Publicado em VEJA de 13 de maio de 2020, edição nº 2686