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Quem era Fernando Villavicencio, candidato presidencial morto no Equador

O ex-deputado foi assassinado em um ataque a tiros após evento de campanha na capital do país, Quito

Por Da Redação
Atualizado em 10 ago 2023, 13h02 - Publicado em 10 ago 2023, 09h49

A apenas onze dias das eleições presidenciais no Equador, um dos candidatos ao cargo, Fernando Villavicencio, foi assassinado na noite de quarta-feira 9, um ato de violência que chocou todo o país.

O ex-deputado foi morto em um ataque com arma de fogo após um evento de campanha na capital do país, Quito. Ele foi atingido por volta das 18h20 (20h20 em Brasília), logo após sair do Colégio Anderson, por cerca de 40 tiros, que também feriram sua escolta.

Sua morte foi confirmada na Clínica da Mulher, para onde foi transferido, e o Ministério Público equatoriano informou posteriormente que um dos suspeitos do ataque também morreu, após ser ferido pelas forças de segurança.

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Villavicencio, de 59 anos, não tinha uma longa trajetória na política, mas acumulou vasta experiência na esfera pública devido ao seu trabalho jornalístico e ao seu compromisso com o combate à corrupção. Essa foi sua principal bandeira quando foi eleito à Assembleia Legislativa, de 2021 até a sua dissolução, neste ano.

Na campanha atual, ele liderou o partido Movimiento Construye para suceder Guillermo Lasso na Presidência, afirmando que o Equador havia se tornado um “narcoestado”. Suas principais propostas giravam em torno de restaurar a segurança com as forças armadas e a polícia nas ruas e, ao mesmo tempo, iniciar uma luta contra o que chamou de “máfia política”.

“Hoje o Equador está tomado por Jalisco Nueva Generación, o Cartel de Sinaloa e também a máfia albanesa”, afirmou em entrevista ao braço em espanhol da emissora americana CNN, citando os cartéis dominantes no país.

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“Assim como para a Colômbia e o México, está claro que não é possível que o narcotráfico se instale em uma sociedade sem o conluio e a conivência do poder político”, completou.

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A proposta de seu partido para combater a onda de violência afirma que a segurança “não se limita apenas à ausência de violência ou crime”, mas deve ser “multidimensional” e passar por vertentes “como segurança alimentar, econômica, ambiental e sanitária”.

O Movimento Construir também defende a separação dos poderes em um sistema judiciário independente, “onde magistrados podem tomar decisões com base na lei e na aplicação objetiva da justiça, sem interferências políticas”. Além disso, Villavicencio prometeu enfrentar crimes como lavagem de dinheiro, garimpo ilegal e corrupção no setor petrolífero, principal fonte de renda do país.

“Vamos assumir o controle das reservas de petróleo para que [os lucros] sejam usados para educação e obras públicas para saúde. Também vamos expulsar as máfias intermediárias que controlam a comercialização do petróleo”, declarara o candidato.

Não à toa, Villavicencio tornou-se alvo de ameaças. Em 4 de agosto, sua campanha informou que grupos criminosos enviavam ameaças de morte “contínuas”, mas o presidenciável continuaria percorrendo o país em comícios.

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Depois de sua morte, o atual presidente, Lasso, responsabilizou organizações criminosas.

“O crime organizado avançou muito, mas todo o peso da lei recairá sobre eles”, escreveu o presidente no Twitter, garantindo que “este crime não ficará impune”. Além disso, ele declarou estado de emergência nacional por 60 dias e convocou um Gabinete de Segurança no Palácio de Carondelet.

Enquanto isso, a irmã do morto, Patricia Villavicencio, culpou o atual Executivo e o ministro do Interior, Juan Zapata, pelo incidente.

“Não queriam que (meu irmão) descobrisse a corrupção. Eu amaldiçoo este governo. Não fizeram nada para protegê-lo. É uma conspiração”, assegurou em declarações à mídia local.

Sua viúva, Verónica Sarauz, também apontou que a equipe de segurança deve ter cometido erros que levaram ao desfecho fatal.

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Vida e ascensão à política

Villavicencio nasceu em 11 de outubro de 1963, em Sevilha, na província de Chimborazo, no centro-sul do país. Segundo o perfil publicado no site da sua campanha, ele cresceu no meio rural, onde aprendeu a “cultivar e respeitar a terra e a conviver com os mais humildes”.

Desde adolescente, esteve ligado a organizações sociais indígenas e de trabalhadores. Em 1999, tornou-se dirigente sindical da Federação dos Trabalhadores Petroleiros (Fetrapec).

Tendo estudado jornalismo e comunicação social na Universidad Cooperativa de Colombia, colaborou com vários meios de comunicação equatorianos e internacionais e escreveu dez livros.

Há dois anos, foi eleito deputado pela Aliança Honestidade, uma coalizão formada pelo Movimiento Concertación e pelo Partido Socialista Equatoriano. Lá, chegou à chefia da Comissão de Fiscalização e Controle Político.

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Durante a crise política no Equador em maio, quando Lasso dissolveu a Assembleia Nacional após o Congresso do Equador retomar o processo de impeachment contra ele, Villavicencio foi criticado porque a sua comissão emitiu um relatório favorável ao presidente, que não teve o apoio de outros legisladores. Novas eleições foram convocadas depois de esse mecanismo, conhecido como “morte cruzada”, ser acionado.

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Ele também dirigiu a Frente Parlamentar Anticorrupção, por meio da qual apresentou diversas denúncias e promoveu investigações sobre corrupção no setor petrolífero, correspondentes aos anos da presidência de Rafael Correa, Lenín Moreno e Guillermo Lasso.

O maior escândalo descoberto foi o chamado caso PetroChina, a dívida que o Equador teria adquirido com a China durante o governo de Correa e que Villavicencio denunciou como um esquema de corrupção. A partir de então, o político foi criticado por setores próximos ao correísmo, que o acusaram de ter postura de subserviência ao governo de Lasso. No entanto, não há provas que sustentem essa acusação.

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Esse é o primeiro assassinato de um candidato presidencial registrado no Equador, e ocorre menos de um mês depois que o prefeito de Manta, uma importante cidade portuária para o narcotráfico, foi assassinado durante uma aparição pública.

O Equador passou por uma grande transformação entre 2005 e 2015, quando milhões de pessoas saíram da pobreza graças ao boom do petróleo, cujos lucros foram investidos em educação, saúde e outros programas sociais. No entanto, nos últimos cinco anos, o país sul-americano foi consumido pela violência relacionada às drogas. A taxa de homicídios bateu recorde no ano passado, com 25 mortes intencionais a cada 100.000 habitantes.

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