Com 30% dos votos, Javier Milei, representante do partido La Libertad Avanza (A Liberdade Avança), saiu das eleições primárias do domingo 13 na Argentina como candidato favorito para o pleito presidencial, marcado para 22 de outubro.
O candidato de 52 anos, que se define como libertário, superou as duas forças que se alternam no poder há vinte anos: o macrismo (com a coalizão Juntos por El Cambio, ou Juntos pela Mudança), que obteve 28% dos votos, e a aliança governista do peronismo-kirchnerismo, Unión por la Patria (União Pela Pátria), que conseguiu 27%.
O resultado é surpreendente. As pesquisas de opinião mais recentes mal deram a Milei 20% dos votos. No entanto, também comprova o fenômeno político polêmico que ele se tornou nos últimos anos.
“Conseguimos construir essa alternativa competitiva que não só vai acabar com o kirchnerismo mas também com a casta política inútil e parasitária que existe neste país”, disse ele ao oficializar os resultados.
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Economista e apaixonado por cachorros – vive com cinco Mastiffs ingleses, cada um pesando cerca de 100 quilos, e reconhece nos pets sua verdadeira família –, e com propostas explosivas (quase literalmente, já que ele falou em “dinamitar” o Banco Central argentino), Milei é comparado a outros políticos de extrema direita, como o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e Jair Bolsonaro (PL), que divulgou vídeo de apoio ao colega argentino.
Milei preocupa o governo brasileiro. No segundo semestre do ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pediu a representantes da Casa Rosada informações sobre o candidato da extrema direita, que se tornou fenômeno político nas eleições legislativas de 2021, quando se elegeu deputado com 17% dos votos na capital.
Recentemente, Lula afirmou que nestas eleições a democracia argentina está em risco.
Economia
A Argentina vive uma situação crítica devido à alta inflação, que chegou a 114% ao ano. O fenômeno Milei, que é economista da Universidade de Belgrano, começou com sua participação em programas televisivos como comentarista da área, onde iniciou a construção de suas principais propostas: primeiro, dolarizar a economia, como fez o Equador, e depois fechar o Banco Central.
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Milei sustentou em várias entrevistas que a criação da instituição, em 1935, foi o início de todos os problemas do país.
Além disso, o candidato propõe uma redução drástica nos gastos públicos, com iniciativas como reduzir o número de ministérios presidenciais para apenas oito (atualmente são 18, sem contar outras agências estaduais).
O candidato do La Libertad Avanza também quer cortar subsídios às empresas prestadoras de serviços, repassando o valor da tarifa real aos usuários. Outra proposta em pauta é acabar com os chamados “estoques de dólar”, que limitam a quantidade de moeda americana que um cidadão argentino pode adquirir por mês.
Na seara de redução de gastos públicos, as principais questões sociais – saúde, educação e desenvolvimento social – devem sofrer os primeiros abalos na sua presidência. A proposta é juntar os três ministérios que tratam dessas questões em um só, que se chamaria “Capital Humano”.
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Na área da saúde, ele defende a criação de um “seguro universal”, em que os pacientes e os médicos acordam os honorários a pagar pelos serviços. No campo da educação, Milei sugere uma modalidade de “vouchers”, em que a frequência escolar não será obrigatória nem gratuita.
“O sistema de obrigações não funciona. Se você quiser estudar, terá um voucher e poderá estudar. O dinheiro que o Estado arrecada para isso é retirado e dividido entre os filhos em idade escolar e é entregue um voucher aos pais, para que possam escolher a escola que querem para os seus filhos”, disse.
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Pautas de costumes
Além das propostas econômicas radicais, é no campo social que suas ideias têm causado maior rebuliço. Em várias ocasiões, Milei afirmou ser a favor da liberação de compras de armas, devido ao aumento da criminalidade registrado em algumas áreas do país, mas sua ideia mais controversa é a legalização do mercado de venda de órgãos, uma atividade proibida por lei.
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“São 7.500 pessoas sofrendo, esperando por transplantes, tem alguma coisa que não está funcionando bem. O que proponho é procurar mecanismos de mercado para resolver este problema”, disse o candidato ao canal de televisão argentino TN.
Outro ponto de debate é a sua colega de chapa, a candidata à vice-presidência Victoria Villarruel. Filha de militares, ela ganhou os holofotes ao questionar os crimes cometidos durante a ditadura militar na Argentina (1976-1983), como tortura e desaparecimento de milhares de pessoas.
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É ela quem lidera as propostas de desregulamentação do comércio de armas e de uma reforma na Justiça que poderá conceder liberdade a dezenas de militares e policiais condenados por crimes contra a humanidade.
Milei ainda foi acusado de misoginia. Vários meios de comunicação denunciaram os maus-tratos sofridos por mulheres jornalistas ao entrevistá-lo, e seu programa se opõe a quase todos os planos dedicados a questões de gênero e proteção dos direitos da mulher.
“No meu governo não haverá marxismo cultural e não pedirei perdão por ter pênis. Se dependesse de mim, fecharia o Ministério da Mulher”, disse Milei em entrevista.
Na mira da Justiça
Em meio às críticas às propostas radicais e excêntricas, a Justiça argentina investiga Milei por vários crimes. O principal caso envolve a suposta venda de apoio a candidaturas a governos regionais na Argentina, depois que empresários e políticos denunciaram o candidato por exigir cerca de US$ 10 mil em troca do apoio de seu partido em eleições provinciais, que ocorrem paralelamente às presidenciais.
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Mesmo assim, ficou claro que ele será personagem relevante na corrida rumo à Casa Rosada.
Além dos resultados obtidos pelo movimento de Javier Milei, o Juntos por El Cambio, que representa o macrismo e a direita moderada, elegeu como candidata a ex-ministra da Segurança Patricia Bullrich. Por sua vez, o partido governista, Unión por la Patria, escolheu o atual ministro da Economia, Sergio Massa, como candidato presidencial.