Em meio ao apartheid entre homens e mulheres promovido pelo regime totalitário do Irã, a ativista Narges Mohammadi, de 51 anos, fez sua voz ecoar pelo mundo e venceu, nesta sexta-feira, 6, o Prêmio Nobel da Paz — reconhecimento de uma vida dedicada à luta, e resposta à repressão do regime dos aiatolás.
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Mesmo presa desde 2016, cumprindo pena de 10 anos e 6 meses, Narges continua na linha de frente do combate. Ela é vice-presidente do Centro de Defensores dos Direitos Humanos, organização não governamental liderada pela jurista Shirin Ebadi, outra revolucionária iraniana que também foi agraciada com a premiação em 2003.
Sua postura combativa foi gestada quando ainda era estudante, aos 32 anos, e resultou em consequências duras. A ativista acumula no histórico 13 prisões e uma condenação, que totaliza 31 anos de encarceramento e 154 chicotadas, segundo o Comitê Norueguês do Nobel.
“Meu objetivo naquela época era combater a tirania religiosa, que junto com a tradição e os costumes sociais levou à profunda repressão das mulheres no Irã”, escreveu ela em um artigo para o jornal americano The New York Times em 16 de setembro deste ano, data do primeiro aniversário da morte de Mahsa Amini, de 22 anos, enquanto estava presa e sob a custódia da polícia da moralidade iraniana.
O incidente levou a um levante de protestos entre as mulheres contra a repressão de Teerã.
A perseguição protagonizada contra Narges têm impactos extensos. No âmbito familiar, o marido da ativista revelou que não consegue ver a esposa há 15 anos e que os filhos gêmeos, de 16 anos, estão há 7 longe da mãe, por conta das prisões em série.
Ela é a 19ª mulher a conquistar o Nobel da Paz, dado 92 vezes a homens ao longo da história.