Dois massacres em menos de 14 horas ceifaram a vida de 31 pessoas entre sábado e domingo 4 nas cidades de El Paso, Texas, e Dayton, Ohio, nos Estados Unidos. O autor dos disparos no Texas, Patrick Crucius, deixou um manifesto no qual critica o que chama de "invasão hispânica" e prega a adoção de um sistema de aparthaid contra os imigrantes. Foi tachado como "supremacista branco" pelo próprio presidente americano, o republicano Donald Trump, que recomendou a pena capital para "monstros" como Crucius. A polícia de Dayton, a 2.500 quilômetros de El Paso, divulgou poucas informações a respeito do segundo atirador, Connor Betts, mas seus ex-colegas de escola mencionaram que o menino calado mantinha uma lista de pessoas a executar.O atirador em El PasoPatrick Crusius, um jovem branco de 21 anos, saiu da cidade de Allen, no Texas, e dirigiu cerca de 1.000 quilômetros para El Paso, na fronteira com o México, para entrar em um mercado da rede Walmart às 10h39 com um fuzil pesado, óculos de proteção e um protetor auditivo. Pouco depois do início de seus disparos, 20 pessoas estavam mortas e outras 24, feridas. O número de óbitos aumentou para 22 nesta segunda-feira, 5.Minutos antes da carnificina, um texto não assinado surgiu em um fórum anônimo aberto a ideais extremistas de direita — em postagens em outros sites anônimos, pessoas que dizem fazer parte dessa comunidade contestam essa visão, outros, porém, concordam que esses lugares podem ser usados para disseminar ódio. As autoridades de El Paso suspeitam que o texto em formato de manifesto pertença a Crusius, detido pela polícia e sujeito a ser condenado à pena de morte. No texto, ele menciona exatamente os equipamentos que usaria no massacre e as razões do atentado.No texto supostamente escrito por Patrick, o autor inicia seu argumento mostrando seu apoio ao atirador de Christchurch, o responsável pelo assassinato de 50 muçulmanos na Nova Zelândia em março. Diz que seu ataque "é uma resposta à invasão hispânica no Texas". Crusius se refere a seu plano como um ato de defesa dos Estados Unidos de uma substituição étnica e acusa os democratas de prepararem um golpe político para se perpetuarem no poder. "Os hispânicos transformarão o Texas em um instrumento de golpe político", afirma.Crusius morava com seus avós na pacata cidade de Allen, Texas, e estava matriculado na Universidade de Collen. Segundo a imprensa americana que entrevistou ex-colegas do atirador, era uma pessoa quieta, que nunca se enturmava. Pouco tempo após o ataque, foi encontrado um perfil na rede social corporativa LinkedIn associado a ele que dizia. Em sua descrição, mencionava não estar "motivado para fazer nada mais que o necessário para sobreviver" e que passava "cerca de oito horas por dia no computador", coisa que ele contava como experiência em tecnologia.Seu suposto manifesto cobre diversos pontos, de Economia à Política americana. Crucius critica duramente as corporações que preferem contratar imigrantes em vez de americanos para os trabalhos menos especializados. Como consequência, explica o atirador de El Paso, os filhos desses hispânicos — os chamados dreamers — crescem, estudam, se especializam e acabam por retirar dos americanos os trabalhos com melhores remunerações. Para ele, as corporações, por serem pró-imigração devido aos menores salários e à expansão do mercado consumidor, automatizam as funções, gerando uma crise social no país.Por fim, para um país que viveu por décadas a tragédia do segregacionismo, Crusius defende a adoção do aparthaid. Diz ele que a diversidade étnica só se acaba com o genocídio e que a solução para o país seria criar uma confederação de Estados onde cada raça estaria destinada a morar em uma unidade federativa, sem miscigenação."Este é só o começo da luta pela América e pela Europa", finaliza o texto.O atirador de DaytonPouco mais de 13 horas depois do massacre no Texas, Connor Betts, de 24 anos, chegou ao centro da cidade de Dayton, Ohio, junto com sua irmã e o namorado dela. Eles se separaram. Em uma rua movimentada, Betts vestiu uma máscara negra, colocou protetores de ouvidos e, com colete à prova de bala no peito, abriu fogo. Nove pessoas perderam suas vidas na carnificina, entre as quais sua irmã, Megan Betts. Segundo as autoridades locais, ele portava uma arma pesada com mais de 250 munições. .Os policiais patrulhavam a área quando os disparos começaram e, em apenas 1 minuto, conseguiram "neutralizar" o atirador. Apesar de seis das nove vítimas fatais de Betts erem negras, a polícia descartou que o atentado tenha sido movido por racismo. Segundo o comunicado feito pelas autoridades, não há evidências que apontem para o crime de ódio.Segundo a rede de televisão CNN, Connor Betts mantinha uma lista de colegas a quem queria matar ou estuprar quando estudou na escola de ensino médio de Bellbrook. A motivação do crime ainda não está clara.