Quintal explosivo: o impacto da autorização de Trump para a CIA atuar na Venezuela
O argumento oficial de Washington para a escalada é o suposto envolvimento do regime bolivariano com o Tren de Aragua
Desde o fim do século XIX, sucessivos governos dos Estados Unidos, democratas ou republicanos, buscaram influir em países da América Latina cuja ideologia representava incômodo — e sempre de olho em posição geopolítica e econômica estratégica. Ao anunciar, na quarta-feira 15, que autorizou a CIA a realizar ações na Venezuela, Donald Trump seguiu a clássica postura, mas agora em tom de voz mais estridente. “Estamos olhando para a terra agora, porque temos o mar bem controlado”, disse o presidente, depois de enviar oito navios de guerra e um submarino ao Caribe, debaixo da alegação de combate ao narcotráfico. O risco, real, embora até a quinta-feira 16 não tivesse sido posto em prática: uma inédita intervenção militar direta em um país da América do Sul. Não demorou, é natural, para que se instalasse uma questão: a ideia seria a deposição do presidente Nicolás Maduro? Indagado por um jornalista, Trump bateu de pronto: “É uma pergunta ridícula”.
Não se pode esquecer, porém, da animosidade e do fato de Trump recentemente ter posto a cabeça do ditador a prêmio, com recompensa de 50 milhões de dólares. A resposta de Maduro foi imediata e dramática: “Not war, please”, afirmou em inglês. O argumento oficial de Washington para a escalada é o suposto envolvimento do regime bolivariano com o Tren de Aragua, facção criminosa ligada ao tráfico de drogas, mas a própria inteligência americana contesta a versão. A retórica esconde outro movimento: o desconforto com Maduro, sim, mas sobretudo a intenção de ter um chefe venezuelano que não crie dificuldades nos negócios em torno das maiores reservas de petróleo do planeta. “As hostilidades reforçam a fraca figura do venezuelano no cenário internacional”, diz Carolina Pedroso, professora de relações internacionais da Unifesp. O regime cairá? É possível, e convém lembrar do impacto, ao menos do ponto de vista das pressões, do Nobel da Paz concedido à opositora María Corina.
Publicado em VEJA de 17 de outubro de 2025, edição nº 2966







