RDC adia eleições de novo; votação estava prevista para 2016
País vive instabilidade política potencializada por conflitos étnicos, que nesta semana deixaram ao menos 100 mortos
As eleições presidenciais e legislativas na República Democrática do Congo, previstas para o próximo domingo, 23, serão adiadas em uma semana, anunciou nesta quinta-feira, 20, a comissão eleitoral local.
Segundo o órgão, a equipe que organizava o pleito não foi capaz de tomar todas os passos necessários para garantir o bom funcionamento da votação antes de domingo. Os eleitores receberam uma mensagem de texto da Comissão Nacional Eleitoral Independente alertando sobre a mudança.
O adiamento deve irritar a fraturada oposição do país, assim como observadores e organizações internacionais, que cobram o governo por eleições justas e limpas.
Com cerca de 80 milhões de habitantes, a RDC nunca viveu um período de transição pacífica desde que conquistou sua independência da Bélgica, em 1960. As eleições que estavam previstas para 23 de dezembro já aconteceriam dois anos depois do previsto.
Na semana passada, um incêndio destruiu 80% das urnas eletrônicas em Kinshasa, capital da RDC. As autoridades locais afirmaram então que as eleições não seriam adiadas por conta do incidente, e que urnas de outras regiões serão solicitadas para uso na cidade.
Conflitos étnicos
O atraso na votação acontece depois de mais de 100 pessoas morrerem em confrontos entre grupos étnicos rivais no norte do país nesta semana.
Os confrontos vêm acontecendo desde domingo na cidade de Yumbi, entre as etnias Batende e Banunu. Os grupos lutam pelo território onde foi enterrado um chefe banunu, segundo Jules Bango, ativista local.
Entre as vítimas do conflito estão ao menos 12 crianças afogadas ou desaparecidas no Rio Congo, segundo Bango.
Instabilidade política
O atual presidente, Joseph Kabila, sucedeu ao pai, Laurent-Désiré Kabila, assassinado em 2001 em plena Segunda Guerra do Congo (ou Grande Guerra da África, 1998-2003), da qual participaram vários países e etnias africanos.
Em 2016, quando deveriam acontecer as eleições, Kabila se recusou a deixar o governo. Desde então, a votação tem sido adiada repetidamente. Segundo seus críticos, essa decisão é proposital, para estender seu mandato.
Manifestações exigindo a renúncia de Kabila abalaram o governo nos meses que se seguiram. Os protestos são violentamente repreendidos pela atual administração.
Organizações internacionais pediram eleições pacíficas, enquanto organizações não-governamentais como a Anistia Internacional documentaram quase uma dezena de mortes nas manifestações, assim como 150 detenções arbitrárias, desde que o presidente congolês anunciou em agosto que não tentaria a reeleição
Kabila está apoiando seu ex-ministro do Interior, Emmanuel Ramazani Shadary, para ser seu sucessor. Seus principais concorrentes são o ex-presidente da Assembleia Nacional e opositor Vital Kamerhe e o presidente do partido de oposição Felix Tshisekedi.
(Com EFE e Reuters)