Um dos grupos rebeldes da Etiópia declarou ter posicionado forças a cerca de 25 quilômetros do centro da capital Adis Abeba, um dia depois de o governo central do país declarar estado de emergência devido aos confrontos na região do Tigré e avanços de insurgentes.
Odaa Tarbii, porta-voz do Exército de Libertação Oromo (OLA), afirmou na quarta-feira que “nossas forças continuam pressionando em todas as direções, estamos muito perto de ver o fim desta ditadura opressora”. Ele afirmou que alguns membros das forças do governo desertaram para se juntar aos rebeldes, embora a declaração não tenha sido verificada de forma independente.
O OLA é um grupo da região de Oromia, a mais populosa da Etiópia, e juntou forças com a Frente Popular de Libertação do Tigré (FPLT), em uma aliança histórica entre ex-inimigos. No domingo, a FPLT, partido que governa a região do Tigré desde novembro do ano passado, anunciou a tomada das cidades de Dessie e Kombolcha, ambas situadas em Amhara e localizadas a menos de 400 quilômetros de Adis Abeba.
Segundo a rede CNN, no entanto, testemunhas e jornalistas presentes na região não viram sinais de combatentes rebeldes e não houve quaisquer perturbações à vida normal, como aulas em escolas.
Apesar disso, o clima geral no país é de insegurança e tensão. A embaixada americana no país autorizou a saída voluntária de funcionários não essenciais e seus familiares por conta do conflito armado, dizendo estar “profundamente preocupada” com o agravamento da violência e a expansão de hostilidades.
A ofensiva rebelde realizada em Amhara aconteceu depois de vários dias de bombardeios contra Mekele, capital do Tigré, e outras áreas da região, realizados pelo governo da Etiópia e aliados.
Em resposta às afirmações de avanços, o governo anunciou na terça-feira um estado de emergência, depois de o primeiro-ministro Abiy Ahmed pedir que cidadãos peguem em armas para se defenderem da FPLT, que luta há um ano contra o governo federal.
O estado de emergência restringe a realização de protestos e proíbe a disseminação de informação ou propaganda de apoio a grupos considerados terroristas, como os rebeldes do Tigré.
Além disso, é proibido o porte de armas por pessoas que não estejam autorizadas pelas autoridades nacionais. Por essa razão, autoridades da capital etíope pediram na manhã desta terça-feira para cidadãos registrarem suas armas e se prepararem para cooperar com forças da segurança para defender suas vizinhanças.
A guerra entre os rebeldes e o Executivo central etíope eclodiu em 4 de novembro do ano passado, quando o primeiro-ministro do país ordenou uma ofensiva contra os insurgentes, em represália a um ataque contra uma base militar federal, e enviou tropas para o Tigré.
Desde então, houve uma escalada na tensão política e uma onda de protestos, com o registro de milhares de mortos e milhões de deslocados na região do Tigré. Mais de 2,5 milhões de pessoas foram forçadas a fugir de suas casas e cerca de 75.000 etíopes já fugiram para o Sudão.
Segundo a Organização das Nações Unidas, o cenário criou uma situação de fome e insegurança alimentar para centenas de milhares de pessoas.
Junto a isso, a Etiópia viveu mais de duas décadas de guerra com a Eritreia. Estima-se que cerca de 100 mil pessoas tenham morrido em disputas fronteiriças desde 1998. Para alcançar a paz na região, a Etiópia cedeu um território ao país vizinho, em uma das primeiras medidas de Ahmed como premiê, após assumir o cargo em abril de 2018.