Reino Unido anuncia ‘coalizão da boa vontade’ na Europa por cessar-fogo na Ucrânia
Premiê britânico diz que sucesso do plano depende de apoio dos EUA; chefe da União Europeia defende 'rearmar o continente'

O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, anunciou neste domingo, 2, uma nova investida dos países europeus para negociar um acordo de cessar-fogo permanente entre Rússia e Ucrânia. A iniciativa, chamada pelo britânico de “coalizão da boa vontade”, tem a missão de manter o apoio militar à nação presidida por Volodymyr Zelensky e garantir que o presidente russo, Vladimir Putin, não consiga violar um eventual tratado de paz.
“Nosso ponto de partida será colocar a Ucrânia na posição mais forte possível agora, para que eles possam negociar a partir de uma posição de força”, declarou Starmer após uma conferência com chefes de Estado europeus realizada em Londres. Segundo Starmer, as lideranças políticas que se reuniram hoje na Inglaterra concordaram em seis pontos principais:
- Manter o apoio militar à Ucrânia e as sanções econômicas contra a Rússia;
- Garantir a soberania da Ucrânia e a participação ucraniana na mesa de negociações;
- Após o acordo de paz, continuar investindo na capacidade de defesa da Ucrânia contra futuras invasões;
- Construir uma ampla “coalizão da boa vontade” europeia e incentivar a urgência das negociações pelo cessar-fogo e manutenção da paz;
- Buscar o apoio dos Estados Unidos para garantir o sucesso do plano;
- Realizar uma nova conferência “muito em breve” para manter o ritmo das discussões e trabalhar no plano conjunto
Juntamente com a iniciativa pela paz, o premiê anunciou o financiamento de 1,6 bilhão de libras (cerca de 11,8 bilhões de reais) em mísseis antiaéreos para fortalecer os sistemas de defesa ucranianos. No dia anterior, o governo britânico anunciou um empréstimo de mais de 2 bilhões de libras (14,8 bilhões de reais) à Ucrânia, bancados por dinheiro russo congelado no Reino Unido.
Em uma entrevista ao jornal francês Le Figaro, na noite deste domingo, 2, Emmanuel Macron detalhou suas opções em relação à crise ucraniana. O presidente francês disse não acreditar em um cessar-fogo assinado apenas entre americanos e russos e propôs, com Starmer, uma alternativa: uma “trégua no ar, nos mares e nas infraestruturas energéticas” de um mês. Macron vê isso como uma pausa possível de medir, enquanto em terra, “devemos ver que a frente, hoje, é o equivalente à linha Paris-Budapeste. “No caso de um cessar-fogo, seria muito difícil verificar se a frente está sendo respeitada.”
‘Precisamos rearmar a Europa’, diz chefe da União Europeia
Após a conferência realizada em Londres, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, declarou que os países do continente precisam “alavancar” seus gastos militares. “Temos que rearmar a Europa urgentemente”, afirmou a chefe do Executivo da União Europeia, acrescentando que os Estados-membros necessitam de “espaço fiscal” para ampliar os investimentos em defesa.
Desde o início da invasão russa à Ucrânia, em fevereiro de 2022, os líderes europeus que financiam o apoio militar a Zelensky têm adotado a retórica de barrar um avanço do confronto pelo continente e evitar uma escalada nuclear do conflito. Perguntado sobre a possibilidade de que o Reino Unido entre em guerra com a Rússia, porém, Starmer desviou do assunto e afirmou que o plano busca garantir a paz.
Ao contrário da Ucrânia, trinta países europeus são integrantes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), juntamente com Estados Unidos e Canadá — incluindo a Polônia, vizinha imediata do país de Zelensky. Segundo o artigo número 5 do acordo, o ataque a um integrante da aliança militar prevê que todos os demais membros entrem em guerra contra o agressor.
‘EUA são aliados confiáveis’, afirma premiê britânico
Questionado sobre a disposição dos Estados Unidos a participar do plano, Keir Starmer afirmou que “os EUA são aliados confiáveis do Reino Unido”, e que o governo britânico está em diálogo constante com a Casa Branca. Na última quinta-feira, o premiê se reuniu em Washington com o presidente americano, Donald Trump.
A mobilização na Europa, no entanto, ocorre justamente no momento em que o governo dos EUA se afasta dos aliados europeus e se aproxima da Rússia. Desde seu retorno à Casa Branca, Trump voltou a dar declarações de apoio a Vladimir Putin e questionar os gastos massivos do governo americano em apoio à Ucrânia.
Na última sexta-feira, 28, Trump e Zelensky protagonizaram momentos constragendores durante um encontro em Washington. Após o líder ucraniano se queixar de falta de apoio e exigir “garantias de segurança”, o presidente dos EUA criticou o chefe de Estado europeu, chamou-o de “ingrato” e afirmou que ele “não está ganhando a guerra”.