Reino Unido: E agora?
Boca de urna aponta que o Partido Conservador perdeu a maioria no Parlamento: o que forçaria um governo de coalizão e colocaria em xeque a liderança de May
Caso a previsão da pesquisa de boca de urna no Reino Unido se confirme, o Partido Conservador, da primeira-ministra britânica Theresa May, não vai conseguir uma maioria parlamentar na eleição desta quinta-feira. O resultado coloca em xeque a liderança de May e pode impactar as negociações sobre o Brexit.
Quando convocou eleições antecipadas, no final de abril, a premiê esperava eleger uma maioria esmagadora de conservadores, o que fortaleceria seu governo e sua posição nas negociações sobre a saída da União Europeia. May desfrutava então de uma vantagem de 25 pontos nas intenções de voto.
Desde então, sua liderança diminuiu gradualmente ao longo da campanha, durante a qual ela retrocedeu em uma proposta de assistência social, optou por não participar do debate televisivo com seus oponentes e enfrentou questões sobre seu histórico de segurança após a Inglaterra ter sido atingida por dois ataques terroristas que mataram 30 pessoas.
A pesquisa de boca de urna indica que o partido de May deve ficar com apenas 314 assentos, aquém dos 326 necessários para obter a maioria e assumir sozinho o governo. Os conservadores, que tinham 331 assentos antes da convocação das eleições, terão que formar uma coalizão para alcançar a metade das 650 cadeiras do Parlamento.
“Se a pesquisa for precisa, isso é completamente catastrófico para os conservadores e para a Theresa May”, disse à ITV George Osborne, ministro das Finanças conservador de 2010 a 2016, até ser demitido em maio.
Analistas, no entanto, estão tratando a pesquisa com cautela. Na última eleição, em 2015, levantamento semelhante previu que o antecessor de May, David Cameron, não obteria a maioria. Mas com os resultados apurados, Cameron conseguiu 12 assentos além do mínimo necessário.
Esse resultado, embora apertado, foi um triunfo para Cameron, pois a previsão era que ele não conseguiria vencer. Para May, que entrou na campanha esperando ganhar por grande vantagem, mesmo uma estreita vitória durante a noite a deixará gravemente abalada.
Novo governo
Até que os resultados finais se tornem claros, é difícil prever quem vai formar o próximo governo. O Partido Trabalhista, de Jeremy Corby, deve eleger 266 parlamentares, o Partido Nacional Escocês (SNP) 34, os Liberais Democratas, de centro-esquerda, 14, o partido nacionalista galês Plaid Cymru três e os Verdes um.
Se May não conseguir construir alianças, Corbyn pode tentar formar um governo com esses partidos menores, que se opõem firmemente à maioria das políticas da primeira-ministra em questões internas, como cortes de gastos públicos.
Um cenário em que Corbyn assuma o poder com o apoio dos nacionalistas escoceses e dos Liberais Democratas, representaria um futuro do Reino Unido muito diferente do que o planejado pelos conservadores. Até mesmo um segundo referendo sobre a saída do bloco poderia ser discutido, apesar de que o Partido Trabalhista declarou anteriormente que daria seguimento à saída britânica da União Europeia. Corbyn ressaltou, no entanto, que descartaria os planos de negociação de May e daria prioridade à manutenção dos benefícios do mercado comum e da união aduaneira.
May havia prometido buscar um acordo para o Brexit que priorizasse o controle da política de imigração, com o Reino Unido deixando o mercado comum europeu e união aduaneira.
Um atraso na formação do governo britânico pode adiar o início das conversas sobre o Brexit, atualmente agendadas para 19 de junho, e reduzir o tempo disponível para o que se espera ser a negociação mais complexa da história europeia pós-II Guerra Mundial.
(Com Reuters)