O Reino Unido e a Espanha se juntaram à Alemanha neste sábado, 24, ao criticarem a decisão do presidente da França, Emmanuel Macron, de obstruir o acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul para pressionar o Brasil contra os incêndios florestais na Amazônia.
Em uma declaração surpresa na sexta-feira 23, Macron disse que havia decidido se opor ao tratado UE-Mercosul e acusou Jair Bolsonaro de mentir quando minimizou as preocupações com as mudanças climáticas. A Irlanda também se manifestou contra o pacto.
Depois de desembarcar no balneário francês de Biarritz, que recebe neste final de semana a reunião de cúpula de países do G7, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, criticou a decisão, um dia depois que o escritório da chanceler alemã Angela Merkel fez o mesmo em Berlim.
“Há todo tipo de pessoa que usará qualquer desculpa para interferir no comércio e frustrar os acordos comerciais, e eu não quero ver isso”, disse Johnson a repórteres.
Na sexta-feira, um porta-voz de Merkel disse que não concluir o acordo comercial com os países Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai do Mercosul “não é a resposta apropriada para o que está acontecendo no Brasil agora”.
“A não conclusão do acordo do Mercosul não ajudaria a reduzir a destruição das florestas no Brasil”, acrescentou o porta-voz.
Uma autoridade do escritório de Macron disse que o líder francês mais tarde explicou sua posição a Merkel. “É algo que o presidente explicou para a chanceler para que ela entenda a posição que ele assumiu ontem e é algo que ela entendeu muito bem”, disse.
Neste sábado, a Espanha também se juntou ao Reino Unido e à Alemanha e criticou as declarações de Macron.
“Para a Espanha, o objetivo de luta contra a mudança climática é um objetivo prioritário, mas consideramos que é justamente aplicando as cláusulas ambientais do Acordo [com o Mercosul] que mais se pode avançar, e não propondo um bloqueio de sua ratificação que isole os países do Mercosul”, informou o governo espanhol.
“A Espanha liderou o último impulso para a assinatura do Acordo UE-Mercosul, que vai abrir enormes oportunidades para ambos os blocos regionais”, declarou uma fonte do governo .
A França está na linha de frente da pressão internacional contra o Brasil pelo aumento das queimadas na Amazônia. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), as queimadas tiveram um acréscimo de 82% de janeiro a agosto de 2019 ante o mesmo período do ano passado. Esta é a maior alta no índice em sete anos.
Macron convocou os líderes das sete maiores economias do mundo a discutirem as políticas ambientais brasileiras na reunião de cúpula do G7. Sua posição foi apoiada por Merkel, Johnson e pelo primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau.
Segundo anunciou ontem Jean-Yves Le Drian, o ministro de Relações Exteriores francês, os chefes de Estado e Governo das setes maiores economias do mundo devem se pronunciar sobre uma carta em defesa da biodiversidade para a promoção de uma ação contra a extinção de espécies e a criação de um marco mundial.
Neste sábado, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, aumentou a pressão sobre o governo de Jair Bolsonaro ao afirmar que é “difícil imaginar” um acordo entre Mercosul e União Europeia enquanto o Brasil não controlar as queimadas que avançam na Amazônia.
Ontem, a Finlândia, que atualmente detém a presidência rotativa da União Europeia, pediu que os países do bloco avaliem a possibilidade de banir a importação de carne bovina brasileira.
(Com Reuters e AFP)