Relatório americano renova embate entre China e EUA sobre origem da Covid
Pequim rejeita documento do governo americano que afirma que Covid-19 teve origem em laboratório de alta segurança na cidade chinesa de Wuhan
A China acusou os Estados Unidos nesta segunda-feira, 24, de promover teorias infundadas de que o novo coronavírus teve origem em um laboratório de alta segurança na cidade chinesa de Wuhan. A acusação foi feita um dia depois de o jornal Wall Street Journal, citando um relatório da inteligência americana feito durante o governo de Donald Trump, afirmar que diversos pesquisadores do Instituto de Virologia de Wuhan ficaram doentes e buscaram atendimento médico em novembro de 2019, um mês antes o primeiro relato oficial de um caso de Covid-19 na cidade.
“Não houve nenhum caso de Covid neste centro no outono de 2019. A notícia é completamente falsa”, afirmou Zhao Lijian, porta-voz do Ministério de Assuntos Exteriores chinês. O documento citado pelo jornal americano foi feito nos últimos dias do governo do ex-presidente Donald Trump e afirma que os sintomas dos pesquisadores eram consistentes tanto para Covid-19 quanto para doenças sazonais comuns.
Nesta segunda-feira, a rede CNN relatou, citando pessoas com conhecimento da questão, que a comunidade da inteligência americana “ainda não sabe com o que os pesquisadores estavam doentes”. “No fim do dia, ainda não há nada definitivo”, disse uma das pessoas à emissora.
Ainda de acordo com o porta-voz, “os Estados Unidos continuam alimentando uma teoria de ‘vazamento de laboratório” e não se importariam com o rastreamento da doença, apenas em “criar distrações”. Ele citou um comunicado publicado em março no qual o instituto diz “nunca ter lidado com o Sars-CoV-2 antes de 30 de dezembro de 2019”.
A teoria de que o coronavírus foi uma criação de cientistas chineses começou a se espalhar já no início da pandemia, depois que o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, acusou o Instituto de Virologia de Wuhan de ter deixado o vírus escapar, de forma consciente ou não.
Mike Pompeo, ex-secretário de Estado e ex-diretor da CIA da gestão Trump também deu eco às acusações. “Posso garantir de que existe uma quantidade significativa de evidência de que isso veio de um laboratório em Wuhan”, disse.
Os cientistas do laboratório em Wuhan e as autoridades chinesas negaram as alegações. A hipótese mais defendida por especialistas até o momento é de que o vírus tenha surgido no final de 2019, após contaminação por algum animal.
Especialistas internacionais que investigam as origens do novo coronavírus afirmaram em fevereiro, após uma missão à China, que é “extremamente improvável” que o vírus tenha se disseminado a partir de um vazamento de um laboratório na cidade de Wuhan.
“A hipótese de um acidente em um laboratório é extremamente improvável para explicar a introdução do vírus no homem”, declarou na época Peter Ben Embarek, um dos especialistas que integrou a equipe da Organização Mundial da Saúde que investigou as origens da pandemia. “Na verdade, não faz parte das hipóteses que sugerimos para estudos futuros”, acrescentou.
O diretor-geral da organização, Tedros Adhanom Ghebreyesus, no entanto, afirmou em março que “todas as hipóteses continuam na mesa”, após 14 países, incluindo os EUA e o Reino Unido, publicarem uma declaração expressando preocupações com as conclusões da equipe da OMS.