‘Reveses são inevitáveis, mas desistir é imperdoável’, diz Biden após vitória de Trump
Na primeira fala desde que sua vice, Kamala Harris, perdeu eleições dos EUA, ele insistiu que a democracia prevalece e pediu que povo 'abaixe a temperatura'
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fez um balanço nesta quinta-feira, 7, do resultado das eleições americanas, na primeira fala do atual chefe da Casa Branca após sua vice-presidente, Kamala Harris, ser derrotada nas urnas por Donald Trump na quarta-feira, 6. Ao comentar a situação, ele afirmou que “reveses são inevitáveis, mas desistir é imperdoável”.
“Por 200 anos, os Estados Unidos nutriram o maior experimento de autogovernança do planeta. A vontade do povo sempre prevalece. Eu cumprirei meu dever como presidente e, em 20 de janeiro (dia da posse), teremos uma transição pacífica de poder”, declarou, acrescentando que conversou por telefone com Trump na véspera para parabenizá-lo e garantir a cooperação com sua equipe.
Biden afirmou que a “luta pela alma da América” é constante desde a época da independência e definiu campanhas eleitorais como “disputas de visões concorrentes”. “O país escolhe, e nós aceitamos a escolha”, resumiu.
“Você não pode amar seu país somente quando você vence”, explicou, acrescentando que a democracia sempre vai prevalecer no país e a vida vai continuar com quem quer que esteja no Salão Oval.
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O presidente fez uma analogia da situação atual com guerras longas ao explanar que “uma derrota não significa que estamos derrotados, nós apenas perdemos uma batalha”.
“Reveses são inevitáveis, mas desistir é imperdoável. Todos nós somos derrubados, mas a força do nosso caráter é medida pela rapidez com que nos levantamos”, sublinhou.
Sistema eleitoral e Kamala
Ele aproveitou para enfatizar que o sistema eleitoral americano “é honesto, justo e transparente” e que é preciso confiar em sua integridade, na vitória ou na derrota. Nas eleições de 2020, Donald Trump fez uma série de alegações falsas sobre fraude eleitoral após ser derrotado por Biden nas urnas e voltou a sugerir que havia “trapaça” no pleito deste ano.
O chefe da Casa Branca também elogiou Kamala Harris como uma “excelente parceira e servidora pública”, afirmando que ela e sua equipe conduziram uma campanha com caráter. “Ela se esforçou de todo o coração e deveria estar orgulhosa”, disse ele.
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Em meio a pedidos para que a população se unifique e “abaixe a temperatura”, ele distribuiu agradecimentos à sua equipe e qualificou sua presidência como “histórica” – não pelo seu próprio mandato, mas pelos impactos duradouros de políticas aprovadas nos últimos quatro anos, como a Lei de Redução da Inflação (um pacote ambicioso de combate às mudanças climáticas) e a Lei dos Chips (um impulso à economia e indústria nacionais para competir em setores de ponta com a China).
“Sei que muitos de vocês estão sofrendo, mas não se esqueçam de tudo o que conquistamos. A grande maioria do trabalho que fizemos só será sentida nos próximos dez anos. O caminho à frente é claro”, ressaltou. “Estamos deixando para trás a economia mais forte do mundo. As pessoas ainda estão sofrendo, mas elas vão melhorar aos poucos.”
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Biden apagado
Harris tornou-se a candidata do Partido Democrata depois de seu chefe desistir da campanha de reeleição, pressionado por membros da própria legenda que não o consideravam capaz de vencer a disputa contra Trump.
O momento decisivo para a escolha foi um fatídico debate eleitoral entre os dois, em que Biden mostrou desempenho fraco, ao ter dificuldades em completar pensamentos e disparar frases sem sentido. Antes disso, porém, sua acuidade mental e capacidade para completar um segundo mandato já vinham sendo questionadas devido à idade avançada (81 anos) e uma sucessão de tropeços – alguns figurativos, como quando trocou os nomes do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e de seu inimigo, o russo Vladimir Putin, e outros literais (mais de uma vez caiu ao subir em palcos ou embarcar em aviões).
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Durante a campanha de Harris, o presidente foi escanteado, sendo considerado um risco para a nova candidata. Isso por causa de sua impopularidade – na véspera das eleições, tinha 56% de desaprovação, índice mais alto em quatro anos – e da estratégia de tentar descolar a vice-presidente do próprio governo, para afastá-la de críticas à gestão da economia e da segurança (com ênfase à crise de imigração na fronteira com o México).