Rússia diz ter interesse estratégico no Ártico, após Trump insinuar tomada da Groenlândia
Porta-voz do Kremlin disse que Moscou está observando de perto as declarações do presidente eleito dos EUA

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse nesta quinta-feira, 9, que a Rússia tem interesses nacionais estratégicos no Ártico, após o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, se recusar a descartar o uso de força para tomar controle da Groenlândia.
Trump, que será empossado em 20 de janeiro, expressou repetidamente seu interesse de que o governo americano compre o território, que faz parte da Dinamarca há mais de 600 anos, e chegou a declarar na terça-feira, 7, que considera inclusive ações militares ou econômicas para tornar a ilha parte dos Estados Unidos (bem como o Canal do Panamá). No mesmo dia, seu filho, Donald Trump Jr., fez uma visita pessoal à região dinamarquesa.
O republicano também sugeriu a ideia de transformar o Canadá em um estado dos EUA e prometeu mudar o nome do Golfo do México para Golfo da América.
Quando questionado sobre os comentários de Trump em relação à Groenlândia e ao Canadá, Peskov afirmou que a Rússia, que tem o maior litoral do Ártico, está observando de perto o “desenvolvimento bastante dramático” da situação, e que o Ártico está na “esfera de interesses nacionais e estratégicos da Rússia e está interessado em paz e estabilidade lá”.
O porta-voz do Kremlin também declarou que a Europa estava reagindo com muita cautela às declarações de Trump, apesar das tentativas dos EUA de controlar a Groenlândia serem um assunto a ser resolvido entre Washington e a Dinamarca.
Na quarta-feira, o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noël Barrot, afirmou que a União Europeia não permitirá que outras nações ataquem suas fronteiras soberanas.
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“A Europa reage de forma muito tímida e, claro, é assustador reagir às palavras de Trump, portanto, a Europa reage de forma muito cautelosa, modesta, silenciosa, quase sussurrada”, disse Peskov.
“Não estamos à venda”
A Groenlândia, onde vivem 57 mil pessoas, faz parte da Dinamarca há 600 anos, mas hoje controla a maioria de seus assuntos domésticos como um território semi-soberano sob o reino dinamarquês. Suas relações com a nação europeia têm se tornado cada vez mais tensas, devido a uma série de alegações de má gestão do território e maus-tratos à população local durante o domínio colonial.
Em resposta à ameaça de Trump para coagir o governo dinamarquês a vender a Groenlândia com um tarifaço, a primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, afirmou que uma guerra comercial com os Estados Unidos não é o melhor caminho a seguir para nenhum dos lados.
Já o primeiro-ministro da Groenlândia, Mute Egede, reiterou que a ilha não está à venda. Em seu discurso de Ano-Novo, ele intensificou sua pressão pela independência do território. A Dinamarca também afirmou que não vai vender a região e que apenas os groenlandeses podem decidir seu destino.