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Rússia emite sinais díspares sobre América Latina

Moscou defende a criação do Prosul enquanto exige o fim das pressões sobre a Nicarágua e mantém militares na Venezuela

Por Da Redação
Atualizado em 29 mar 2019, 16h30 - Publicado em 29 mar 2019, 13h51
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  • O governo de Vladimir Putin, presidente da Rússia, deu seu apoio à criação do Fórum para o Progresso da América do Sul (Prosul), processo de integração de seis governos de direita latino-americanos, enquanto exigia o fim das pressões “externas” sobre o regime supostamente de esquerda de Daniel Ortega na Nicarágua. Moscou mantém neste momento militares na Venezuela de Nicolás Maduro. Os sinais díspares de interesse russo na América Latina foram expressos pela porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, na quinta-feira 28.

    Os movimentos de Putin na região causam estranheza e preocupação entre países latino americanos e, em especial, nos Estados Unidos de Donald Trump, que tradicionalmente vê a região como sua área primária de influência.

    Ao garantir que a Rússia manterá relações construtivas com os países que integram o Prosul, Maria Zakharova disse que seu país apoia os processos integracionistas da América Latina. “Confirmamos nossa disposição em desenvolver as relações tradicionais de amizade, cooperação construtiva e mutuamente proveitosa com todos os Estados que se somaram ao Prosul”, disse. “A Rússia sempre defendeu a unidade dos países da América Latina e do Caribe além das ideologias. Apoiamos firmemente as tendências integradoras da região, as organizações e uniões multilaterais criadas lá.”

    Os seis integrantes do Prosul – Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai e Peru – expressaram na última terça-feira 26 condenaram o envio de aviões e contingentes militares russos à Venezuela, que consideraram como “ameaça à paz e à segurança da região”. A manifestação foi feita pelo Grupo de Lima, ao qual esses países integram, assim como outras sete nações do hemisfério ocidental. O Grupo de Lima foi criado em 2017 como mecanismo de pressão pela redemocratização da Venezuela e, desde janeiro, exige a renúncia de Maduro e reconhece Juan Guaidó como presidente interino do país.

    Zakharova, porém, afirmara também que seu país manterá os aviões militares na Venezuela por tempo indeterminado. A declaração provocou reação do governo dos Estados Unidos. O conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, John Bolton, considerou essas “ações provocativas como uma ameaça direta”. “Seguiremos considerando esse tipo de ações provocativas como uma ameaça direta à paz internacional e à segurança na região”, afirmou Bolton em comunicado, no qual garantiu que os Estados Unidos “defenderão e protegerão” seus interesses no continente americano.

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    Além disso, o conselheiro advertiu com “veemência” a qualquer “ator externo” contra a implantação de “ativos militares” na Venezuela ou em qualquer outra área do continente. “O governo (americano) condena o uso contínuo por parte de (o presidente da Venezuela) Nicolás Maduro de pessoal militar estrangeiro em sua tentativa de se manter no poder”, diz o comunicado.

    “Estamos convencidos de que os nicaraguenses são capazes de solucionar seus assuntos internos de forma independente e sem interferência externa”, disse Zakharova, ao criticar pressões com o objetivo de  “desacreditar o governo legítimo do país”.

    Nicarágua

    A diplomata acrescentou que a Rússia está acompanhando o desenvolvimento dos eventos no país latino-americano e acredita que todas as forças políticas locais vão se esforçar para “garantir um desenvolvimento estável e progressivo da Nicarágua“. A Nicarágua enfrenta crise política desde a dura repressão do regime de Daniel Ortega aos protestos populares que explodiram em 18 de abril de 2018. A motivação inicial de se opor à reforma da previdência social deu lugar à exigência de renúncia do presidente.

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    A crise já deixou 325 mortos desde abril do ano passado, segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). Alguns grupos humanitários elocais estimam em 561 as vítimas fatais, enquanto o governo só reconhece 199 e denuncia uma tentativa de golpe de Estado da oposição.

    Para tentar solucionar as diferenças, o governo nicaraguense e a oposição extraparlamentar iniciaram negociações em 27 de fevereiro, nas quais foram propostas, entre outras medidas, a realização de eleições antecipadas “livres, justas, transparentes e com observação”, e a anulação dos julgamentos contra os ativistas presos.

    Os negociadores também colocaram sobre a mesa a libertação dos denominados “presos políticos”, depois que o governo de Daniel Ortega se comprometeu a libertar “todos” os manifestantes presos em um máximo de noventa dias, que os familiares cifram em 802 e as autoridades em 340.

    (Com EFE)

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