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Rússia planeja desconectar usina nuclear ocupada e arrisca nova Chernobyl

A medida pode levar ao mau funcionamento dos sistemas de refrigeração dos reatores, pois a usina ficaria dependente de uma única fonte de eletricidade

Por Amanda Péchy
Atualizado em 25 ago 2022, 09h49 - Publicado em 25 ago 2022, 09h48
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  • A Rússia planeja desconectar a usina nuclear ocupada de Zaporizhzhia, na Ucrânia, da rede elétrica ucraniana, para roubar a energia gerada pela planta e conectá-la à rede russa. No entanto, a medida pode levar à falha de seus sistemas de refrigeração, arriscando um acidente nos reatores.

    Pedro Kotin, chefe da empresa de energia atômica da Ucrânia, disse ao jornal britânico The Guardian que os russos apresentaram o plano aos trabalhadores da fábrica que permanecem na planta (cerca de 9.000 funcionários, dos 11.000 que trabalhavam lá antes da invasão).

    Kotin teme que o exército da Rússia esteja visando essas conexões para tornar o cenário de emergência uma realidade. Tanto a Ucrânia quanto a Rússia se acusaram mutuamente de bombardear Zaporizhzhia. As conexões de eletricidade da usina já estão em uma situação crítica: três das quatro linhas principais que a ligam à rede da Ucrânia foram quebradas durante a guerra, e duas das três linhas de backup que a conectam a uma usina convencional também estão inoperantes.

    De acordo com o especialista, o plano russo de desconexão total aumenta o risco de uma falha catastrófica, pois deixa o sistema dependente de uma única fonte de eletricidade para resfriar os reatores. Durante a transição entre os sistemas de rede, a usina dependeria apenas de um gerador de reserva movido a diesel.

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    Quem assistiu a série “Chernobyl”, da HBO, pode entender melhor a situação. Quando os operadores da usina realizam um teste para observar como a usina reagiria durante uma falha energética – em que passa a contar apenas com o gerador de reserva –, o sistema ainda precisava resfriar os reatores. Depois que desligaram a turbina de energia, mais água fluiu para o reator, o que significava que havia menos água resfriando a reação. Isso criou bolsões de vapor superaquecido – e aqui é onde fica complicado.

    Há mais nêutrons ao redor para desencadear a fissão nuclear, o que significa que o reator fica mais quente. Um reator mais quente cria mais vazios de vapor, que criam um reator mais quente que cria mais vazios de vapor. É um ciclo vicioso.

    As autoridades soviéticas sabiam dessa falha nos reatores RBMK, mas decidiram não contar aos engenheiros que realmente trabalhavam neles, porque isso seria uma admissão de que a União Soviética não era perfeita.

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    Na Ucrânia, os reatores passaram por reformas após a era soviética, para torná-los mais seguros – o que significa que Zaporizhzhia não apresenta os mesmos problemas dos reatores RBMK de Chernobyl. Mas em Zaporizhzhia, após apenas 90 minutos sem energia, os reatores atingiriam uma temperatura perigosa, segundo Kotin, derretendo estruturas.

    Em Chernobyl, por causa do derretimento, houve uma segunda explosão, ainda maior, que destruiu uma placa de aço protetora de 1.000 toneladas pelo teto e dispersou o núcleo do reator ao redor, iniciando um incêndio no telhado do reator ao lado.

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    Outras ameaças à segurança nuclear na usina incluem veículos tão apertados em salas de turbinas que os bombeiros teriam dificuldade para acessá-las se um incêndio ocorresse (há 14 caminhões em um corredor e pelo menos seis em outro), e uma campanha de terror contra trabalhadores que optaram por permanecer na usina de linha de frente. Segundo o chefe da empresa, um foi espancado até a morte e outro tão gravemente ferido que precisou de três meses para se recuperar. Outros 200 foram presos.

    A Rússia assumiu o controle da fábrica de Zaporizhzhia em março, mas ainda é administrada por trabalhadores ucranianos. Moscou está sob pressão para permitir a visita de inspetores das Nações Unidas ao local.

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