Rússia questiona França e Reino Unido sobre espião envenenado
Endereçadas aos governos Macron e May, 24 perguntas tratam, sobretudo, do envolvimento de agentes franceses na investigação
O Ministério de Relações Exteriores da Rússia divulgou uma lista de perguntas dirigidas aos governos do Reino Unido e da França, referentes ao envenenamento do ex-informante russo do serviço de inteligência britânico Sergei Skripal e sua filha, em Salisbury, no sul da Inglaterra, em 4 de março.
As questões, 14 delas ao governo britânico e dez ao francês, concentram-se no envolvimento de investigadores franceses no inquérito. Entre outros pontos, os russos pedem explicações sobre a razão de a França ter se envolvido no processo e sobre o grau de expertise do país para participar da investigação.
Tanto Sergei Skripal como sua filha, Yulia Skripal, foram envenenados por uma substância neurotóxica da era soviética e seguem internados no Reino Unido. Oficiais britânicos dizem que ela está se recuperando, mas seu pai, de 66 anos, permanece em condição crítica.
A primeira-ministra britânica, Theresa May, tem culpado o governo russo pelo ataque aos Skripal – o Kremlin nega a acusação. May tem recebido forte apoio dos Estados Unidos e de seus aliados na Europa, que aceitam a versão britânica de que o governo russo foi o responsável pelo ataque com agente letal.
Mais cedo, a embaixada da Rússia em Londres divulgou em seu site um alerta a cidadãos russos em viagem para o Reino Unido, de que poderiam enfrentar provocações e até a introdução de objetos em suas bagagens. O aviso, diz a embaixada, é uma reação à “política contra a Rússia, à crescente retórica ameaçadora do lado britânico e às ações seletivas do governo do Reino Unido contra cidadãos russos e suas instituições”.
“Orientamos monitoramento constante de seus pertences e bagagens a fim de evitar provocações por objetos estranhos colocados dentro das malas”, disse o governo russo na nota.
A tensão entre os dois países aumentou na sexta-feira, após a embaixada da Rússia no Reino Unido ter denunciado a realização de buscas em um voo vindo de Moscou da Aeroflot, companhia aérea russa, no aeroporto de Heathrow, em Londres. A ação, segundo os russos, viola normas internacionais da aviação. Neste sábado, oficiais britânicos responderam que se tratava de operação de rotina realizada em alguns voos que chegam ao país. A Rússia enviou uma nota diplomática exigindo explicações.
O caso do envenenamento do espião russo e sua filha já levou Rússia e Reino Unido a expulsarem mais de 150 diplomatas um do outro em diversos países. Em São Petersburgo, onde as autoridades russas exigiram que os EUA fechem as portas de seu consulado até a noite deste sábado, funcionários carregavam caminhões com caixas e malas. Em conversa com jornalistas, o cônsul dos Estados Unidos no país, Thomas Leary, disse que “está pronto para partir”.
Pedido
Também neste sábado, o governo britânico informou que considera um pedido da Rússia para ter acesso a Yulia Skripal. O departamento de Relações Internacionais do Reino Unido disse que está revisando a solicitação, “em linha com nossas obrigações com as leis domésticas e internacionais”, já que Yulia é cidadã russa. A avaliação irá considerar os direitos e desejos dela, acrescentou o departamento.
Em mensagem publicada no Twitter nesta sexta-feira, a embaixada da Rússia em Londres classificou como “boa notícia” a recuperação da filha de Skripal e disse que os diplomatas russos tinham o direito de vê-la pela Convenção sobre Relações Consulares de 1968.